A AMÉLIA DE HOJE
“Que, finalmente, o outro entenda que embora às vezes me esforce, não
sou nem devo ser a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa vulnerável e forte,
incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa ... Uma Mulher!” Lya Luft
Ter
sucesso profissional sem deixar de ser excelente dona-de-casa, mãe exemplar com
filhos exemplares, amante fogosa com um corpo impecável, rosto sem rugas e
belas pernas. É a armadilha perfeita. A mulher que busca atingir todos estes
quesitos vai encontrar muita frustração e conviver com muita culpa.
Liberdade
já não é mais problema externamente. A mulher pode fazer tudo o que um homem
faz. A briga agora, é outra: a conquista da liberdade interna, que só pode ser
concedida pelo superego.
A
Amélia de hoje não é perfeita, não dá conta de tudo e muitas vezes se perde e
se confunde com estes andróides padrões de beleza que muitas vezes, levam ao
exagero; desajeitada numa imagem corporal idealizada (por quem?), corre o risco
de se desconectar de sua essência, privando-se daquela que realmente é. Estressada,
agoniada, deprimida quando não respeita seus limites e fraquezas, ela busca uma
carreira meteórica em detrimento da qualidade de vida. Não satisfeita em dar o
melhor de si, embarca em cobranças irrealistas e estabelece competições
absurdas, querendo quebrar o próprio recorde da polivalência perfeita.
A
escritora e psicoterapeuta Lídia Aratangy propõe um estilo de vida realista
onde a mulher é dona de si, dona de sua história e sabe se ouvir para traçar o
seu destino, de tal forma que não se submete a uma vida olímpica e perfeita. Dá
o melhor de si para que o mundo seja melhor, sem se esquecer que é uma simples
mortal, dotada de fraquezas e limitações.
A
escritora nos lembra que muitas bandeiras já foram erguidas pela mulher através
dos tempos para romper barreiras e conquistar espaços no mundo e convida as
mulheres a hastear agora, a bandeira da trégua e do descanso, para olhar para a
vida com orgulho do que está conseguindo fazer, reconhecer o que já conquistou
e caminhar em frente respeitando seu ritmo, que não é lento; é simplesmente
humano. A Amélia de hoje pode conquistar a sua própria tolerância e assim, ser
respeitada pelo outro, lembrando-o de que chegou a sua vez do quebra-encanto. A
mulher já compreendeu, há muito, que não existem príncipes encantados (ou ainda
há quem acredita nisso?) Agora, é a vez dos homens compreenderem que não existe
a mulher maravilha.
Oxalá
destituídas de onipotência possamos agendar compromissos do tamanho de nossas
pernas, considerando o dia com 24 horas ao invés de cobrarmos as pendências
resultantes de uma voracidade em produzir muito mais do que nossa capacidade
humana nos permite. Definitivamente, não está mais na moda ser workaholic (e
olha que eu já fui - mas consegui me curar!). Ser competente também é
conquistar o caminho do equilíbrio, de tal forma que a vida se torna pacífica,
apesar de todos os surpreendentes desencontros e variáveis desagradáveis que até
mesmo a natureza está nos proporcionando.
Na
bolsa da mulher, indispensável ainda é o batom que tem que dar espaço agora
também para o filtro solar. No coração, indispensável é a ternura e a
sensibilidade para perceber desejos e necessidades, acompanhados de sua
impotência para atender a todos eles.
Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga Clínica especialista em
Análise Transacional, Consultora de empresas e escritora.
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