publicado na Revista Bem-Estar, Diário da Região, 27/10/2013
Encontrei-a
ali, braços envolvendo as pernas dobradas, cabeça enterrada no colo feito bicho
assustado. Ao olhar para mim, seus olhos vermelhos de tanto chorar continuaram
a despejar lágrimas que desciam grossas enquanto, entre soluços, sua boca
balbuciava algumas palavras após a minha pergunta: - O que houve? Conte-me!
Parecia uma
adolescente me relatando o rompimento com o namorado. Porém, ela não era
adolescente e o que me intrigou: não se tratava de um rompimento.
Aquela
relva verde e macia era um convite para uma caminhada. Estendi a ela minha mão
para tirá-la daquela posição quase fetal e apontei a estrada com um gesto
imperativo e protetor: “vamos por aqui!”. Para minha alegria, ela segurou em
minha mão e num impulso, se levantou. E enquanto caminhávamos e sorvíamos o sol
pintar o céu de tons rubros até se esconder, fiquei ouvindo sua narrativa.
Enquanto ela se desabafava comigo, lembrei-me do terapeuta americano John Gray
e pensei: “minha querida, você está dentro de um relacionamento elástico”.
Um elástico
se estica até certa distância e então volta. Assim são alguns homens na sua
forma de amar. Precisam de distância seguida de aproximação. Isso se repete
como um ciclo. Eles se afastam, voltam, se afastam, voltam. Não há rompimento.
E pasmem, na fase do afastamento, não há traição. É como se eles estivessem “de
dieta” do relacionamento.
E por que
isso acontece? Eles não querem compromisso? Temem a intimidade? Temem perder a
autonomia e independência e ao mesmo tempo querem amar?
Homens elásticos se afastam quando se sentem
envolvidos demais. Ao contrário do que as mulheres geralmente pensam: - Ele não
gosta mais de mim! – ele está tão apaixonado que precisa de um tempo para
administrar seus sentimentos, inseguranças, ciúmes, enfim, precisa de um tempo
para reorganizar-se.
Quando os
homens elásticos se reaproximam, tendem a agir normalmente, sem explicações,
sem justificativas, como se nada houvesse acontecido. Afastam-se por três,
quatro semanas e ligam dizendo “olá!” como se tivessem aparecido no dia
anterior. E há aqueles que dizem: - Sumida! Aí, a pessoa não sabe se está
ficando louca ou se já ficou. – Eu? Sumida? Tem certeza?
Não adianta
ficar maquinando o que foi que fez de errado, o que falou que ele não gostou,
qual foi a situação que causou o afastamento. Nananinanão! O homem elástico se
afastará mesmo que a mulher nada tenha feito e isso não tem relação com falta
de amor. É algo que emerge sem planejar.
Homens
elásticos podem enriquecer o relacionamento, quando compreendidos. No período
de afastamento, basta as mulheres se distraírem com algo, fazerem suas coisas,
se divertirem e deixa-los em paz.
Mulheres do
tipo absolutamente seguras entendem que não adianta querer forçar a barra neste
momento do ciclo. Não é hora de conversar, de cobrar, de discutir a relação. Quando
eles se reaproximarem, elas podem necessitar de um tempo para a reconexão e
podem expressar o desapontamento e todos os sentimentos que este afastamento
nelas provocou. Sem dramas.
A boa
notícia é: pode ocorrer de, numa destas fases de afastamento dos homens
elásticos, as mulheres se depararem com algum homem plenamente não elástico.
Porque para alegria de todas e felicidade geral da nação, eles existem, claro!
E então, os
homens elásticos, ao voltarem para aquele lugarzinho aparentemente cativo no
coração das mulheres, o encontrarão o-cu-pa-do. C’est la vie!
Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga
Clínica e Organizacional especialista em Análise Transacional, Diretora da Ego Clínica e Consultoria. www.katiaricardi.com.br