quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

SIMPLES ASSIM!







Quem me conhece sabe. Gosto de coisas simples. Simples assim! Com um toque de "passei por aqui", como uma marca registrada.

Mas estou falando da simplicidade cuidada.


Porque tem a simplicidade desleixada.

O simples bem cuidado fica com um toque especial. Carinho no simples. É isso!



Com um pouco de criatividade, tempo disponível e amor esbanjando pelas mãos, qualquer pessoa pode transformar um cantinho em algo aconchegante e especial.


E isso faz bem para a alma. Concretiza, cristaliza. Dá cor, cheiro e forma para o amor.

Quando estamos estressados, cuidar de detalhes pode distrair e provocar uma catarse. Acontece como se tivéssemos a varinha mágica para transformar lágrimas em sorrisos, aliviar dores até mesmo físicas. Jardins, vasinhos, lacinhos de cá e de lá contam as histórias que não podemos ou não queremos transformar em palavras.

Não importa as tendências de decoração. Combina sempre. Cafona? Nunca. O que é seu, o que vem de você, é o seu estilo e pronto.

Qualquer crítica, é inveja. Qualquer desvalorização, é falta de sensibilidade.

Com recursos disponíveis e dentro do orçamento, seu cantinho se transforma no melhor lugar do mundo. É categoria cinco estrelas.

Sua personalidade expressada nas cores, texturas, contrastes entre o velho e o novo. Cada objeto contando uma história, sussurrada só para você.

Já experimentou?



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CASTANHAS, MARTELOS, A FAMÍLIA E O NATAL

publicado no livro "Natal em palavras", pg.75


Abro a agenda e o pensamento logo desabrocha da mente e às vezes escapa pelos lábios: nossa, o Natal está chegando! Já? Como passou rápido o ano!
Para mim, a magia do Natal está nos pequenos detalhes e além dos bonecos de Papai Noel, árvores, luzinhas e arranjos. É um tempo que convida à renovação e atualização de planos, entrar em um processo intenso de cura emocional, fazer uma faxina interna, renascer.
Nesta época do ano, deixo a nostalgia chegar intensa. Não tem como ficar sem lembrar o gosto do encontro ao redor daquela mesa na casa dos meus avós.  Logo ao entrar pela porta da sala ainda criança eu avistava a árvore de Natal caseira, feita de um galho de jabuticabeira, com jatos de spray prata e algumas bolas coloridas. Vozes, muitas vozes vinham de todos os cômodos. Uma algazarra total. Movimento, vida, alegria, encontros com tios, primos e algumas pessoas estranhas. Observadora, não demorei em concluir que os “estranhos” eram visitantes e convidados da dona Tita - como era chamada minha querida e amada avó. Meu avô distribuía martelos da sua coleção para pequenos consertos domésticos e assim quebrarmos as castanhas, naquela época com preços mais acessíveis no mercado. O barulho dos martelos na mesa de madeira quebrando nozes e avelãs me convidava a imaginar os anões do Papai Noel fazendo os brinquedos na Grande Oficina do Polo Norte.
Presentes? Ora, presentes... Foram apenas detalhes nestes dias incomuns de minha vida. Não havia presente maior e melhor para mim do que este: minha família ali aguardando o relógio carrilhão da sala de jantar dar as badaladas da meia noite. Silêncio. Nem um “pio” nesta hora. Ao redor das mesas juntadas em formato banquete, todos em pé, ouviam a prece feita por meus avós. Eles agradeciam tudo que estava acontecendo ali, em nossas vidas e pediam para Jesus abrandar o sofrimento de todos os doentes nos hospitais e das pessoas que estavam distantes daqueles que amavam. Nesta parte da oração minha garganta ficava como se uma mão invisível estivesse apertando-a e eu pensava que quando ficasse adulta faria alguma coisa para aliviar o sofrimento das pessoas, de alguma forma. Uma decisão precoce para ser psicóloga?
Depois da prece, quem não chorou acabava chorando: todos se abraçavam, sem exceção. Se alguém ali havia se desentendido com alguém, era a hora de se reconciliar, sob os olhares vigilantes das autoridades na cabeceira da mesa (vovô e vovó). Sim, esperávamos Papai Noel. Porém, mais que presentes, ele nos trazia a alegria de pertencer, de sonhar, de amar. Para perpetuar a reunião familiar, dona Tita tinha um gravador com um microfone e cada um era entrevistado, deixando ali sua mensagem de Natal. Tenho todas as fitas cassetes guardadas até hoje, um registro histórico dos nossos encontros de Natal.
            Sou muito grata aos meus avós por este legado. Quando cresci, minha avó Tita me passou a incumbência de fazer a oração. Aceitei, mas nunca consegui faze-la com o mesmo fervor.
            Desejo a vocês leitores, que misturem os odores e sabores do Natal com a alegria de estarem com as pessoas que amam.  Assim, esta data sempre será inesquecível.
            Feliz Natal!
  

Kátia Ricardi de Abreu
www.katiaricardi.com.br
www.katiaricardideabreu.blogspot.com.br 



domingo, 21 de dezembro de 2014

RELACIONAMENTOS QUASE HONESTOS



publicado em 21 de dezembro de 2014 na Revista Bem-Estar

Honestidade: do latim, honos, que significa dignidade e honra. Indica a qualidade de ser verdadeiro, não mentir, não fraudar, não enganar.
O conceito de honestidade está deturpado, confundido, distorcido, contaminado. Indivíduos honestos são chamados de “caretas”, “babacas” diante de uma sociedade atual transformada em seus valores.
Quando faço entrevistas para contratar colaboradores para as empresas, é comum ouvir em algum momento da entrevista: “sou honesto”. No mundo corporativo, só o tempo poderá confirmar o grau de honestidade de quem se diz honesto. Já na prática clínica, testemunho diariamente a mais pura honestidade que um ser humano pode manifestar, quando assume a coragem de reconhecer em si e para si, suas emoções autênticas, revelando sua busca para uma vida da qual se orgulhe, buscando mudanças que afetem seu caráter e sua personalidade de forma positiva, abandonando decisões disfuncionais e comportamentos que nada contribuem para seu bem-estar.
Temos momentos de honestidade, momentos de não honestidade e momentos de quase honestidade, se fizermos uma reflexão honesta sobre nós. Somos emocionalmente honestos sempre? Aposto que não! Não somos honestos quando não praticamos a clareza na comunicação nas nossas relações interpessoais, provocando confusão e perplexidade no interlocutor. Antes disso, não somos honestos quando não entramos em contato com nossos sentimentos autênticos, mascarando, disfarçando as emoções para atingirmos objetivos convenientes, moral e socialmente aceitos. Não somos honestos quando buscamos justificativas pífias para nos enganar e assim, confortavelmente caminhar numa verdade maquiada. Não somos honestos quando recusamos mergulhar em níveis mais aprofundados de consciência que podem nos garantir doses de autoconhecimento suficientes para incomodar àqueles que não conseguem conviver com nuances de certo/errado. Ou isso ou aquilo. Ou preto ou branco. Ou vai ou fica. Ou eu ou ele (a).
Para ser honesto com Maria, Pedro é desonesto com Joana. Bom seria que Pedro fosse honesto com Pedro. E com esta leitura emocionalmente honesta sobre si, Pedro poderia ser quem é. E isso bastaria. Dar-se permissão para ser quem é caracteriza a mais pura honestidade na comunicação emocional. É a forma mais distante de qualquer tipo de traição de si. Porque trair as próprias emoções é exercitar a não honestidade existencial. E o mundo está cheio de traições de si para não trair o outro.
Temos um quadro de referência interno, que filtra aquilo que convém para confirmar nossas crenças pré-estabelecidas. Quando os estímulos contrários às nossas crenças são enviados, nós os recusamos para não perdermos o pseudoequilíbrio, vivendo emocionalmente em paz com nossa honestidade  travestida. Isso garante a homeostase para uma vida limitada na nossa criatividade, espontaneidade, intimidade e consciência.
A falta de honestidade emocional começa no ambiente familiar quando se proíbe à criança a expressão honesta de seus sentimentos.  A psique em formação descobre maneiras de reprimir e canalizar a emoção indiretamente, desenvolvendo estratégias para expressá-la de forma quase honesta. “Sinta o que você sente”, é a permissão que a criança necessita, seguida de: “e expresse o que você sente de forma adequada”.  Educadores e pais bons o bastante, podem estimular crianças a construírem relacionamentos emocionalmente honestos. Adultos podem se resgatar através do processo de reeducação emocional. Assim, sapos confortáveis serão transformados em príncipes e princesas, envolvidos pela honestidade de suas emoções e construirão relacionamentos saudáveis.   
KÁTIA RICARDI DE ABREU
PSICÓLOGA CRP06/15951-5 especialista em Análise Transacional
www.katiaricardi.com.br

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

DIÁRIO DE BORDO

Kátia Ricardi de Abreu no VIII FÓRUM BRASILEIRO DE AT
Depois de uma semana mergulhada nas atividades em Foz do Iguaçu, volto transformada para minha vida rotineira. Compartilho aqui meu "Diário de Bordo"

Domingo, 12 de outubro: Lá vou eu para Foz do Iguaçu, com muita esperança e amor no coração, disposta a aprender cada vez mais e descobrir este mundo que existe dentro de mim, fazendo conexões com as pessoas. Calma, serena, confiante, chego no aeroporto de Foz e o Transfer contratado para me levar do aeroporto ao hotel não aparece. Nada que um táxi não possa resolver. No Hotel, minhas amigas Maku e Ivana me esperam para um passeio no Duty Free Shopping a caminho da Argentina. Lá vou eu para o mundo  das compras! Tá certo que a cotação do dólar não está aquelas coisas mas deu para se divertir um pouco neste mundo fashion. De volta para o Hotel, sinto a alegria de estar com pessoas queridas. Com Marília e Daniela, foi divertido e gostoso passar a primeira noite no Golden Tulip no centro de Foz. O jantar, numa lanchonete a duas quadras do Golden Tulip, foi recheado de risadas e bom papo!

Segunda, 13 de outubro
Procuro  a sala onde vamos nos instalar para nossa reunião de Planejamento Estratégico e aos poucos, chegam Marília, Laucemir, Jorge, Ivana, Maku, Daniela e Regina. Pronto! Time completo. O dia rola gostoso. Almoçamos juntos na padaria ao lado do hotel e terminamos o dia em estado de graça. Emocionada, percebo claramente que esta gestão está muito disposta, motivada, um time que quer dar a sua contribuição para a UNAT-BRASIL. No início da noite, fomos a um restaurante perto do Golden Tulip. Tive o prazer de conhecer o Marcos, um garçom especial.

Terça, 14 de outubro
Dia livre para passear, atravessamos a ponte da amizade em uma Van e fomos fazer compras no Paraguai. Conheci o mundo dos eletrônicos. Quase me perdi nos cremes e maquiagens. Vou morrer e não vou conseguir usar tudo aquilo. Mas o melhor da festa foi estar entre amigas. Demos muita risada. Cansadas, no final da tarde voltamos para o Golden Tulip. Tirei o biquini da mala e caí na água morna da piscina. Não havia ninguém, mas pouco a pouco foram chegando... E no início da noite, tínhamos uma roda de mais ou menos quinze pessoas ali, trocando figurinhas entre kangas, drinks e muita risada. Como não houve almoço (Ivana nos proibiu de comer qualquer coisa no Paraguai), fomos jantar no restaurante panorâmico do Golden Tulip. Vista maravilhosa. Mesa farta de amigos e bom papo! Degustei um peixe sugerido pelo Jorge, não consigo lembrar o nome do bicho, só me lembro do sabor delicioso, com tempero de ervas. Ah! Côngrio, é o nome do peixe, que gosta das águas profundas e geladas do mar.

Quarta, 15 de outubro
Dia de bancas examinadoras, fiquei ao lado do Diretor de Docência e Certificação para o que precisasse. Tive uma participação na banca da Laucemir durante a facilitação do case. Ao mesmo tempo, alinhavei as ações com o publicitário que foi fazer a assessoria de imprensa no evento, Francis Oliveira. Novamente almoço na padaria ao lado do hotel, muito calor nas ruas. Maku e Ivana voltaram para o Paraguai. No final da tarde, todas na piscina novamente. Papo delicioso, Pina Colada e tais... Fomos jantar em um restaurante a três quadras do hotel, e eu saboreei o bacalhau mais delicioso que já provei na minha vida. O atendimento do garçom, Marcos, à altura do bacalhau. Comemoramos o aniversário da Regina e já éramos um grupo de 40 pessoas nesta noite.

Quinta, 16 de outubro
Começou o Pré-Fórum, com Curso de Jane Costa e depois, piscina novamente. à noite, a abertura solene do VIII FÓRUM BRASILEIRO DE ANÁLISE TRANSACIONAL. Conferência Magna ministrada por Márcia Bertuol, divina, inspiradora, profunda, tudo de bom. Durante o jantar dançante, lembrei-me dos Congressos de que já participei na UNAT e pensei: "os bons tempos estão de volta". Com os pés doloridos de tanto dançar, dormi feliz!

Sexta, 17 de outubro
Na parte da manhã, assisti mesa redonda com Rosa Krausz e Jorge Close. Na parte da tarde, me envolvi com a preparação da apresentação do meu trabalho e a preparação da prestação de contas da Diretoria de Comunicação da UNAT. O almoço foi no restaurante do Golden Tulip e o jantar, na Argentina. O grupo todo lotou dois ônibus e uma van e lá fomos nós atravessar a fronteira e nos divertir muito com tango e música que rolou até voltarmos ao Golden Tulip.

Sábado, 18 de outubro
Logo pela manhã, tivemos a Assembleia Geral da UNAT, prestação de contas da gestão e posse da nova diretoria. O evento se encerrou e eu fui para os braços de Morfeu, cansada fisicamente. à noite, voltamos no restaurante para o repeteco do bacalhau dos deuses e nos despedimos do Marcos, o garçom. Vi lágrimas nos olhos dele quando acenamos. Ele sabia que estávamos partindo.

Domingo, 19 de outubro
Beijos, abraços, despedidas pelos corredores, hall e dependências do Golden Tulip. Volto para casa energizada e transformada. Sou uma pessoa diferente da que chegou em Foz no dia 12 de outubro. Não fui ver as cataratas nem o Parque das Aves como pretendia, mas foi bom respeitar meu ritmo, meu tempo e dar atenção a outros aspectos internos mais importantes nesta ocasião. Certamente, voltarei a Foz do Iguaçu para os passeios turísticos, compras e tais. Espero ter a oportunidade de rever Marcos, o garçom especial e saborear aquele delicioso bacalhau.Trago na bagagem a inesquecível experiência de muitos encontros de alma. Conexões humanas. Valeu!

domingo, 10 de agosto de 2014

DECEPÇÕES


texto publicado em 10 de agosto de 2014, Revista Bem-Estar, Diário da Região

No salão, a música tocava. Vozes somadas compunham o burburinho com gosto de festa. Ela não esperava encontrá-lo ali. Não mesmo. Depois de tanto tempo, ele estava sorrindo, há quase três metros que mais pareciam três milhões de anos-luz. Esta distância e todos os que passavam apressados e outros nem tanto, não a impediram de ver o brilho nos olhos dele que parecia dizer: “saudade!”, enquanto a mão direita esboçava um discreto aceno. E tudo aconteceu em cinco segundos. Talvez seis. Não mais que isso.
Com o andar firme apoiado em suas pernas bambas, atravessou o salão assustada, insegura e lá permaneceu. A noite fria terminou assim: ela à direita, ele à esquerda, até que foram para suas casas. Ela para o norte, ele para o sul.
No dia seguinte e no outro e no outro, ela esperou um telefonema, um e-mail, um torpedo, um sinal de fumaça, alguma manifestação mais expressiva de comunicação verbal ou escrita que a fizesse entender o distanciamento dele anterior àquela noite fria. Talvez por imaginar que merecesse. Mas veio o silêncio. E então chegou a tristeza. Por que ela esperou. Por que ela esperou demais.
No salão a música tocava. Sentado, ele conversava quando seus olhos caíram sobre aquela conhecida silhueta, aquele jeito de andar... Seria mesmo ela? Ou seria produto da sua imaginação? – pensou ele. Mas quando ela girou e ficou de frente para ele, ah! Não teve mais dúvidas. Sim, era ela! O que fazer? Ele olhou tentando dizer: “veja, estou aqui!” Ela reagiu ao seu quase aceno de forma quase natural.  Ele a viu acenar discretamente e quase sorrir. Depois, ela sumiu de sua visão. Ele esperou que ela voltasse e lhe desse algum sinal de que estava tudo bem.  Tentou alcançá-la com o olhar e quando conseguiu, ficou em dúvida se seria uma boa ideia ir ao seu encontro em circunstâncias tão incertas. Decidiu não arriscar. E permaneceu ele à esquerda, ela à direita no grande salão. E a noite fria terminou assim: com seus passos firmes, parecendo feliz, ele foi para o sul, sabendo que ela iria para o norte.

Decepção. Sentimento de insatisfação que surge quando não se concretizam as expectativas sobre algo ou alguém. Vem acompanhada de mágoa, tristeza, frustração e muitas vezes, raiva.
Somos responsáveis pelas escolhas que fazemos. Estas escolhas envolvem nossos relacionamentos. Portanto, a decepção é uma consequência de nossas escolhas carregadas de expectativas em relação ao outro.
Não haverá decepção se não houver expectativa. Será que conseguimos viver de forma a nada esperar de ninguém sempre? Muitas vezes nos distraímos deste propósito.  Esperamos algo de alguém. Então, nos resta administrar as decepções. Isso significa isentar o outro como responsável por nossos sentimentos. Fácil de entender, difícil de praticar.
Vez ou outra, vemo-nos ressentidos, magoados, tristes porque o outro fez ou não fez algo que esperávamos que fizesse ou não fizesse. Algo que não faríamos ou faríamos se estivéssemos no lugar dele. Esquecemos de que temos valores diferentes, percepções diferentes, história de vida diferente, tudo diferente. Fica aquela dor, grande ou pequena (dor tem tamanho?), misturada aos pensamentos confusos e sentimentos desconfortáveis.
A vida nos ensina muitas lições. Com o tempo aprendemos que o outro não é o algoz de nossos sentimentos, de nossa inevitável dor. E quanto mais cedo aprendermos, melhor.

No dia seguinte, ela ficou taciturna. Pensou em procurá-lo, mas sua autoestima não permitiu. Esperava que ele o fizesse. Passou outro dia, mais outros e ela se curou de seus sentimentos dolorosos. Virou a página.
No dia seguinte ele ficou macambúzio. Pensou em algumas palavras para dizer a ela caso a encontrasse novamente em um dia qualquer, em uma festa qualquer.  Passou outro dia e mais outros. Envolveu-se com suas coisas. Esqueceu.
Ambos seguiram suas vidas. Ela no norte, ele no sul, separados por ruas, avenidas, expectativas e... Decepções!

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga Clínica especialista em Análise Transacional e Consultora de empresas.

domingo, 6 de julho de 2014

LOUCOS E SÃOS



texto publicado em 06 de julho de 2014 na Revista Bem-Estar, Diário da Região

Rótulo é toda e qualquer informação de um produto que esteja transcrita em sua embalagem. É uma forma de comunicação visual. Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. Usa-se a palavra “rótulo” também para se referir a estereótipo.
Uma boa conduta é evitar “rótulos”. Segundo Eric Berne, criador da Análise Transacional, um cirurgião pode dizer: “será necessário retirar seu apêndice” ao invés de: “você precisa fazer uma cirurgia”.
Uma pessoa que ouve: “você precisa de um tratamento psicológico” pode até se ofender. Mas se ouvir: “você deve dar atenção à sua saúde em todos os sentidos, inclusive com profissionais que cuidam da parte emocional” poderá receber de outra forma esta indicação.
As palavras “tratamento psicológico” ou “psiquiátrico” são muitas vezes ofensivas, alarmantes e ameaçadoras, para as pessoas que entendem o trabalho de profissionais da área da saúde mental, como “cuidadores de loucos”.
Trata-se de um conceito infundado, preconcebido, depreciativo e muitas vezes sem fundamento.     
                Consultas psicológicas não se restringem a tratamentos. Muitas pessoas buscam profissionais da área da saúde mental para orientações, esclarecimentos, manutenção do estágio de bem-estar já alcançado. Empresários, executivos, líderes, buscam a manutenção do sucesso construído ao longo de muitos anos de carreira. Querem  fazer um planejamento de vida orientado, ou ter um espaço seguro para um desabafo e canalização saudável de suas emoções. Muitas pessoas decidem poupar amigos e familiares das lamentações, preocupações e sentimentos incômodos do dia-a-dia, reservando a eles, momentos de compartilhamento lúdico.
                Os tratamentos psicológicos, por sua vez, não se restringem aos distúrbios e desequilíbrios graves, que comprometem a convivência com a coletividade e ou que colocam em risco a própria sobrevivência da pessoa em desequilíbrio. Qualquer situação conflituosa, que esteja causando o mínimo de desconforto interno e ou externo, poderá merecer a atenção daqueles que não querem simplesmente deixar o tempo passar para que, magicamente, tudo se resolva. Diante dos primeiros sinais ou sintomas buscam ajuda profissional por terem a noção da importância mente/corpo.
                A loucura propriamente dita pode ser vista de muitas formas. Se considerarmos todo e qualquer desequilíbrio como loucura, pequeninas loucuras são reveladas em todo momento. Quem já não se pegou perguntando: “será que estou ficando louco?” No entanto, é a ausência de catexia (energia psíquica) no Estado de Ego Adulto, impedindo que o raciocínio lógico comande a ação, que vai provocar a ruptura do contato com a realidade.
Ainda sobre a loucura, temos que considerar que, muitas vezes, a lucidez exacerbada pode ser entendida como loucura por aqueles que não visualizam a realidade com tanta nitidez, contaminados com suas normoses cotidianas.
Dizer: “fiz uma loucura” pode significar uma audácia, uma permissão interna que gerou um comportamento ousado, porém benéfico, ultrapassando os limites habituais impostos pelo agente da ação. Nestes casos, estas chamadas “loucuras” merecem aplausos.
Rótulos e estereótipos são limitantes também do ponto de vista psicossocial. Quando associados a sentimentos, caracterizam atitudes e preconceitos sociais. Poderíamos poupar um bocado a nós e a todos ao nosso redor, se buscássemos a ampliação da nossa consciência de tal forma que pudéssemos administrar os desconfortos cotidianos com o potencial dinâmico da nossa mente agindo em nosso benefício. Somos capazes de aprender coisas que nos fazem bem e o conhecimento das nossas emoções trabalhando a nosso favor, é um aprendizado contínuo que nos garante ficar muito longe da loucura.
               

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ORGULHO DA MAMÃE!

Ser mãe é algo mágico, uma experiência encantadora. Tudo bem que eu vomitei até, tive enjôo até e cheguei a pensar que nunca mais iria conseguir comer um sanduíche com katchup, mostarda e maionese. Mas acabei sendo muito recompensada e todos os incômodos da gravidez ficaram insignificantes diante deste garoto que nasceu loiro com os olhos verdes, muita energia e muitas perguntas sobre o Universo.
Há vinte e quatro anos, em plena Copa do Mundo, nasceu o Bruno, exatamente no dia seis de junho de 1990, nosso primogênito,  hoje graduado em Física e mestrando pela UNICAMP.
"Mãe, por que o céu não cai?" - perguntas como esta faziam parte da rotina diária.
Certa vez ele chegou da escola indignado porque recebeu uma advertência da professora. O motivo: estava batendo palmas e cantando uma música ao entrar na sala de aula após o recreio. Segundo ele, a aula não havia começado e o tempo do recreio ainda estava valendo. "Mãe, a gente não pode ser feliz?" "É errado ficar alegre e cantar?"
Hoje ouço Bruno tocar violão quando passo pela porta do seu quarto, nas raras vezes em que ele nos visita. Consigo escutar seus gritos que ecoam lá de Campinas quando o Palmeiras faz um gol.
Calado, reservado, Bruno expressa todo o seu afeto no olhar. Os cães deliram de alegria quando reconhecem a sua presença e a cozinha fica agitada com o seu talento culinário refinado.
"Filhos são do mundo, para o mundo" - é o que eu digo para mim, quando sinto meu coração apertado de saudade dele.
Sou grata ao Universo por ter gerado dois filhos. Exercito-me para ser uma mãe que os mereça.
Feliz aniversário Bruno!


sexta-feira, 30 de maio de 2014

EU, A POLÍTICA, A COPA E AS CAPIVARAS

 Fiz o Curso de Psicologia na época da ditadura. Estas fotos mostram os rostos da minha turma na Avenida Francisco Glicério, em Campinas-SP, marchando e cantando e seguindo a canção de Geraldo Vandré. Foram muitas passeatas. Nós acreditávamos que a democracia faria do nosso país - o gigante adormecido, um país melhor.
Hoje, 34 anos depois, nossa turma ainda se reúne pelo menos uma vez por ano. Nosso próximo encontro será em Serra Negra, em outubro. As canções nos violões vão rolar. As músicas, já sabemos de cor. O brilho nos olhos de todos estes rostos continua, porque estamos trabalhando por um país melhor. Fizemos da Psicologia, não só uma profissão, mas um instrumento de transformação individual e social. Eu, particularmente, aluna aplicada da matéria "Estudo de Problemas Brasileiros", ministrada por um militar com um nome esquisito - Enjolras (não é sigla, é nome mesmo!), hoje passo longe dos assuntos políticos e me sinto enojada com o pouco que leio nos jornais sobre o que nossos representantes estão fazendo com aquele nosso querido gigante adormecido dos anos 80.
A Copa do mundo  parava o país porque acreditávamos nesta grande oportunidade de mostrar ao mundo nossos talentos no futebol brasileiro. "Prá frente Brasil do meu coração, todos juntos, vamos, salve a seleção!", era o hino que saía de nosso lábios e nossos corações vibrantes de alegria. A Copa do mundo não parecia um instrumento de manipulação de massas, naquela época. Ou será que eu, tão imatura, não percebia o que percebo hoje? Acreditava  nos benefícios da democracia, participava de passeatas e ainda torcia para o Brasil ganhar a Copa. Cada gol era comemorado com muitos gritos, pulos, e uma chuva de papéis jogados pela janela do vigésimo andar do Edifício Mirante, na Avenida Moraes Sales, onde eu morava. Quanta esperança!
Não sinto mais vontade de assistir os jogos da Copa. Só me resta apreciar as capivaras, tão ingênuas passeando por aqui, perto da minha casa, às margens deste Rio Preto. Feliz da vida, as capivaras e eu!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

VALORES, GRATIDÃO, ABUNDÂNCIA

Não é raro surpreendermo-nos com os pensamentos voltados para a metade do copo que está vazia, e não para a metade do copo que está cheia. Ou seja, ficamos pensando em coisas que não temos e deixamos de considerar, lembrar e valorizar o que temos.
Agradeçamos ao Universo o que ele nos enviou: saúde,  amigos, trabalho, moradia,  talentos, enfim,  tudo que possuímos de material ou não.
Em seguida, agradeçamos o que ele não nos enviou, poupando-nos de muitos transtornos e sofrimentos.

Vulneráveis às armadilhas do "ter", corremos o risco de aceitar os atalhos para recompensas ilusórias, saciando nossas necessidades emocionais de forma superficial e portanto, passageiras.
Quando fortalecemos nossa estrutura psíquica através do autoconhecimento, entramos em contato com nossas necessidades emocionais, aprendemos a suprí-las  autêntica e verdadeiramente e como consequencia, recusamos todas as formas de gratificação ilusória.  Passamos então,  a enxergar a metade do copo que está cheia e a sensação de abundância acabará reinando em nossas vidas.
Tudo flui no Universo!

quarta-feira, 28 de maio de 2014

FACEIRICES DE OUTONO

FACEIRICES DE OUTONO

A temperatura cai e ela abre a gaveta procurando o agasalho que mais possa aquecer seu corpo. Porque sua alma anda muito bem agasalhada. Ah se não fosse ela mesma, nada estaria tão bem!
Sente-se confortável naquele corpo, agora quentinho. E então abre sua mente para as faceirices mais intrigantes. Paisagens geograficamente distantes a atraem, composições da natureza e criatividade que unem o simples com o aconchegante, fazem de seus poucos minutos livres, verdadeiro bálsamo que alimenta e sacia sua sede de viver.

Livros a aguardam a poucos metros de suas mãos enquanto sua mente ferve de ideias. Não, agora ela não pode parar. Dispara anotações no seu caderninho secreto, para não esquecer alguma delas. Sabe que sua memória pode falhar, detalhes podem ficar esquecidos.
Nada concreto, mas ela não desiste. Continua inspirada e inspirando-se para que, a qualquer momento, possa transformar seus sonhos em realidade.
Se ela pudesse caminhar, sair desta cadeira de rodas, conheceria todas estas paisagens mesmo que fosse à pé. Sem se lamentar, viaja pelo mundo, assiste tudo pela janela virtual e imagina sentir o cheiro daquelas flores, ouvir o barulho daquelas ruas.
Ah, se ela pudesse andar...

domingo, 23 de março de 2014

CERTINHA DEMAIS



 publicado em 23 março 2014 Revista Bem-Estar, Diário da Região

Você conhece alguma pessoa que é certinha? Irritantemente certinha? Sim, aquela pessoa que está composta o tempo todo, nenhum  fio de cabelo fora do lugar, não sai da linha por nada nesse mundo. A roupa não amassa jamais. Se for mulher, o batom não sai, o perfume não vence. Se for homem, a barba parece que nunca cresce. O carro está sempre impecavelmente limpo, a casa rigorosamente arrumada. Na academia, ela não transpira e se o fizer a toalhinha perfumadíssima imediatamente entra em ação. O tom de voz é invariavelmente doce, suave, manso e bem colocado. Tudo nela se traduz em “estou cem por cento no controle”.  As fotos no facebook? Só alegria! Não aparecem rugas, imperfeições, mas os melhores ângulos. Não sai da linha nunca, jamais, em tempo algum. Sua vida é poética. Aliás, é uma daquelas histórias de contos de fadas. Aquelas com o final feliz, em qualquer hora do dia.
A pessoa certinha demais geralmente é adorada, admirada, querida, amada, venerada, invejada. Mas ela é certinha demais. E por que demais? Porque o exagero acaba atrapalhando os relacionamentos e o desconforto em não se mostrar como realmente é. Isso não é bom? Tem um preço.
Pessoas certinhas demais causam tanta, mas tanta admiração que provocam distância, às vezes abismo, entre elas e os simples mortais, que revelam uma versão de si, mais do tipo “a vida como ela é”. A certinha demais se esforça para passar uma imagem impecável para sentir-se aceita, para não sofrer com qualquer possibilidade de rejeição. Mas, o excesso da impecabilidade assusta e acaba mais distanciando do que a aproximando das pessoas.
O empenho todo em ser corretíssima garante-lhe um bocado de carícias positivas condicionais. Um simples deslize, que seria aceitável para qualquer um, acaba se transformando em algo que mancha a perfeita e correta imagem construída, devido à alta expectativa criada em torno de sua conduta e apresentação. Os grandes ídolos e celebridades consagradas sofrem com a construção desta imagem junto aos seus fãs e junto àqueles que caçam obstinadamente os erros e inadequações para mostrar que a imagem construída é de barro. Outras personalidades do mundo artístico, mais orientados e sensatos, gostam de se apresentarem como realmente são, sem se importarem com o impacto negativo causado e acabam transformando este impacto em positivo.
Regina Duarte certo dia tomava café ao meu lado, no aeroporto de Congonhas e muitos nem a notaram tal a simplicidade da postura. Confesso que tive que confirmar com meu olhar (discretamente, coloquei até os óculos!) para ter certeza de que era ela, ali, sorvendo um expresso com pão de queijo, mastigando, engolindo como simples mortal, numa produção confortável sem se preocupar com as possibilidades de assédio.
Julia Roberts é alvo de fotógrafos que adoram clicar seus looks casuais muito criticados pelo excesso de improvisação. E daí? Por que pessoas famosas ou não têm que se preocuparem com a impecabilidade vinte e quatro horas por dia, se elas não sofrem deste mal de querer ser certinha demais?
Podemos desfrutar do conforto de não estarmos rigorosamente corretos como se fosse um pecado não corresponder às expectativas de perfeição construídas nas mentes que necessitam deste referencial. Não estou falando apenas de aparência. Falo de toda e qualquer gafe e escorregada que alguém possa dar, em algum momento em algum lugar. E dane-se quem está de tocaia para jogar “agora te peguei!”. Quanta energia e tempo desperdiçado para manter uma patologia. Viva a espontaneidade! Vamos ser quem somos e pronto.

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga (CRP 06/15951-5) Clínica especialista em Análise Transacional, consultora de empresas, palestrante, escritora.