sexta-feira, 8 de março de 2019

SOBRE 8 DE MARÇO







            Muito já escrevi e publiquei sobre as conquistas da mulher ao longo dos anos. Muito já falei em palestras sobre a histórica data de 8 de março, instituída pela O.N.U. como o dia Internacional da Mulher.
Hoje, as comemorações não mais se limitam ao 08, avançam para todo o mês de março, com promoções comerciais e festanças mil.
As mulheres recebem descontos para trocar pneus do carro, recebem flores nas empresas onde trabalham, batons de brinde em estabelecimentos comerciais e promessas de transformações do visual em salões de beleza. Para elevar a autoestima e reconhecer a grandeza da participação da mulher na sociedade, tudo é válido, por que não?
Mas eu, euzinha aqui, não quero cair na mesmice das coisas que já escrevi e falei sobre o universo feminino. Contrariando minha tendência em ver sempre a parte boa de tudo e de todos, quero convidar à reflexão do que está embaixo do tapete. Então, este texto não é sobre as conquistas da mulher. Não é sobre feminismo e igualdade de direitos, mas é sobre o que a mulher ainda não conquistou.
Vivemos numa sociedade eminentemente machista. A mulher sofre pressões, opressões, humilhações, abusos, violência física e psicológica, assédio moral e sexual. Sem contar os feminicídios frequentemente noticiados pela imprensa. É crescente a participação da mulher na renda familiar, contribuindo também com a economia nacional, mas com salários inferiores aos homens na mesma função. A mulher não conquistou a igualdade de gênero e ainda sofre discriminação.
Segundo dados do IBGE, existem 22 milhões (38,7%) de domicílios que contam com a mulher como provedora e elas são responsáveis por 87% das famílias formadas por responsável sem cônjuge e com filho. O mercado da moda, estética e emagrecimento, a chamada indústria da beleza, desfruta dos lucros com a independência econômica da mulher e o desejo de consumo. Exageros ficam por conta da carência afetiva.
Embora a nossa sociedade machista tenha muita dificuldade em se comportar de forma respeitosa em relação ao papel da mulher na sociedade contemporânea, as próprias mulheres não se fazem respeitar, nesta altura da história. Diante de tantas oportunidades para avançarem em suas conquistas, fazem movimentos opostos, quando perdem a noção do bom senso desconstruindo a imagem de tantas pioneiras batalhadoras. A desigualdade de gênero existe e machuca. Mas não precisamos somar a isso, os danos da desconstrução. A mulher ainda não conquistou o respeito a si, quando expõe a sua imagem de forma vulgar, erotizada, objetificada. A mídia expõe a imagem da mulher da forma que convém aos interesses mercadológicos e infelizmente, há aquelas que se submetem a estes fins. Isso é triste!

Embora bastante decepcionada e machucada com as humilhações, discriminações e assédios que sofri (e ainda sofro) pelo simples fato de ser mulher, sinto orgulho por esta condição. Gerei filhos, fiz jornadas de trabalho duplas e triplas e aprendi a me fazer respeitar nas mais inusitadas e bizarras situações, mesmo que ainda longe da tão sonhada igualdade de gênero.
- Mas, Kátia, você? Como assim? – Pode perguntar o leitor (a).
Violência e agressões passivas acontecem diariamente nos melhores salões e nas mais cobiçadas salas do mundo corporativo. Não me sinto inferior nem superior a ninguém. Sou simplesmente um ser humano. Sou simplesmente uma mulher. E parafraseando uma das campanhas publicitárias, posso maquiar meu rosto, mas meus sentimentos, nem pensar! Tintim!

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951, Diretoria da Ego Clinica e Consultoria