segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ANO NOVO, VIDA VELHA




O calendário novo está alcançável. Agendas novas também, já estão a postos. O ano novo está chegando.
 Fogos de artifício começam a fazer BUM! dentro de mim comemorando tantas coisas boas acontecidas em 2013. Que pena, 2013 está indo embora! Ah se eu pudesse começaria tudo outra vez...Que ano bom!

Nada contra o novo, nem contra o ano novo . Quero sim, que venha 2014 naturalmente, com toda a graça que ele quiser chegar. Rebolando na minha frente com tantas oportunidades, seduzindo-me com todos aqueles doze meses para eu tocar acordes de felicidade. 

Mas não quero vida nova. Quero minha vida velha. Sabe aquele travesseiro macio e velho? Aquele chinelo confortável e velho? Aquele vestidinho de ficar em casa? Quero minha vida velha. Custei tanto para deixá-la assim, tão do meu jeito. Pode ficar melhor? Pode. Mas nova, não quero não. Quero ano novo, vida velha.

Quero o conforto dos colos amigos (velhos amigos). Quero a ternura dos olhares queridos (velhos queridos). Quero as paisagens com as histórias que vivi (velhas paisagens). Quero ano novo, mas a minha vida tem que ser velha.

Sou de uma geração que ainda não se acostumou com tantas novidades, coisas descartáveis demais.  Entendam que minha resistência é  abandonar o velho pelo valor que ele tem e ainda, em aceitar o novo pelo simples fato de ser novo, sem nenhum critério de seleção.

Então, coisas velhas me fazem bem. Até os móveis velhos estão na moda. Outro dia li numa revista de decoração que os móveis antigos contam uma história. Estão na última moda, pode? Coloquei a minha escrivaninha velha no quarto do meu filho e disse a ele: esta foi a minha primeira escrivaninha, quando comecei a trabalhar há 30 anos. Olha quanta história!

Gosto de colocar uma blusa antiga misturada com um sapato novo. Ninguém percebe. Mas a blusa tem uma história.

E assim, a blusa, a escrivaninha, e toda a minha vida velha, têm um valor muito grande. Feliz ano novo! Que ele se junte a todos os outros anos velhos cheios de boas recordações!

Kátia Ricardi de Abreu
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domingo, 8 de dezembro de 2013

Ele está chegando...






Abro a agenda e o comentário logo desabrocha da mente e às vezes escapa pelos lábios: nossa, o Natal já está chegando!

Pois é, o ano rolou, o tempo escorregou. Rapidamente, faço aquela avaliação dos  projetos, das metas e objetivos que estabeleci no início do ano. Costumo escrever para não me esquecer dos compromissos que fiz comigo. Comemoro os objetivos atingidos e faço novo planejamento para o ano que virá.

Mas o que me deixa muito feliz é sentir a magia do Natal dentro do meu coração. Vibro com os pequenos detalhes e deixo a nostalgia chegar. Relembro aquela imensa mesa na casa dos meus avós, com tios, primos, muitos parentes, amigos, vizinhos. Música tocando, cheiro de assados no ar. Meu avô distribuía martelos para quebrar as castanhas e ouvíamos aquele barulho das cascas quebrando na mesa de madeira. A árvore de Natal era feita de um galho de jabuticabeira com jato de spray prata, muitas bolas coloridas. Uma algazarra total na casa, crianças correndo, entra-e-sai de uma porta a outra. Natal era barulho, movimento, vida, alegria, encontros.

O relógio carrilhão da sala de jantar dava as badaladas da meia noite e todos faziam silêncio. Ao redor da mesa, todos em pé, alguns de olhos fechados, ouviam a oração que meus avós faziam. Eles agradeciam tudo que estava acontecendo ali e pediam para Jesus abrandar o sofrimento de todos que estavam doentes nos hospitais, das pessoas que estavam distante daqueles que amavam.

Nesta parte da oração minha garganta ficava com um nó e eu pensava que, quando crescesse, queria ajudar as pessoas que sofrem, aliviar seu sofrimento de alguma forma.

Sou muito grata aos meus avós por me ensinarem a simplicidade do Natal e por imbuírem a solidariedade e o espírito natalino nos nossos corações.

Nesta próxima semana, minha casa vai começar a ficar movimentada. Filhos chegando, com todos os sabores e odores dos tempos natalinos. Estou muito feliz por ver a evolução dos meus clientes, que passarão um Natal melhor do que o último, pelas mudanças internas realizadas, pelos progressos na convivência dentro da diversidade.

Acho que realizei aquele sonho de criança. E desejo a todos vocês que o Natal seja simples como o galho de jabuticabeira que se fez árvore de Natal e os martelos para quebrar castanhas da casa dos meus avós.    O espírito natalino está dentro de nós!

Feliz Natal a todos vocês, queridos leitores e amigos!

Kátia Ricardi de Abreu
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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

MUDEI!



Antes eu adorava tomar sol e me estirava por horas para pegar uma cor. Agora, fujo do sol e trinta minutos são suficientes para uma dose de vitamina D que não me causem mais manchas na pele do que eu já tenho. 
Sábado à tarde, shopping lotado, era meu dia de fazer compras e circular pelas lojas passeando. Agora, olho no estacionamento dos shoppings centers e só entro se estiver segura de que haverá local para estacionar, espaço para circular, mesa para me sentar e tomar um café. Cinema? Só quando está quase saindo de cartaz. E olhe lá! Fico esperando passar no Telecine para assistir em casa, no meu adorável sofá.

Salão de beleza para as poucas festas que costumo ir, também já fez parte da minha agenda. Agora, faço manicure no meio da semana e descobri que ajeito meu cabelo com minhas próprias mãos de acordo com meu estilo. Férias então... Só longe das temporadas. Quero praias, hotéis, estradas e aeroportos com o movimento apenas normal. Nada mais que isso.
Sempre fui muito vaidosa. Mas não uso nada que não seja confortável só porque é bonito ou se tornou uma tendência fashion. Quero sapatos, roupas, cintos, todos de acordo com a aprovação não só do espelho, mas do meu corpo. E a minha etiqueta predileta é aquela que cabe no meu orçamento.

O que houve comigo?

Evito aglomerações, barulhos, engarrafamentos de trânsito, excessos de tudo. Estou envelhecendo? Pode ser... Afinal, mais de meio século já se foram nesta estrada da vida. Mas quero acreditar que apenas mudei!
Fica mais aceitável na minha cabeça crer que algumas formas de estruturação de tempo não cabem mais na minha vida pelas escolhas que fiz. Não existe certo nem errado, não existe nunca nem sempre. Pode até ser que eu circule por estes lugares amanhã ou depois. Talvez, quem sabe...

O que descobri é que não faço mais nada sem consultar aquele lugarzinho dentro de mim que me deixa muito confortável em relação às minhas escolhas, sejam elas quais forem.
Isso inclui pessoas. E esta é a parte mais dolorosa. Poucos entendem o que é ser terapeuta e querer se poupar para estar inteira diante do cliente. Até para jogar conversa fora a gente tem que fazer escolhas que nos preserve, não nos tire a energia de forma vampirística.

Acabei ficando corajosa ao ponto de assumir quem eu quero e quem eu não quero para trocar as mais inocentes figurinhas. Longe de excluir interessantes e casuais conversas de salão, percebi que não estou interessada em nada que não me agrade mas sim em tudo que me faça sentir que o tempo destinado a isso ou aquilo, definitivamente valeu a pena.

Sim, mudei! Mudei tanto, que estou escrevendo no meu blog estas descobertas que até outro dia, eu as
guardaria apenas para mim.
Mas que bom, mudei! E hoje tenho o privilégio de compartilhar isso com vocês!


 Kátia Ricardi de Abreu
www.katiaricardi.com.br 
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terça-feira, 12 de novembro de 2013

CURSO ESPECIALIZAÇÃO EM ANÁLISE TRANSACIONAL


CURSO AT202 - FORMAÇÃO DE ANALISTAS TRANSACIONAIS - ÁREA CLÍNICA


MATRÍCULAS ABERTAS  ATÉ 20 DE DEZEMBRO 2013

 INÍCIO DO CURSO EM FEVEREIRO 2014

PROGRAMA OFICIAL DA UNAT-BRASIL

PÚBLICO-ALVO: graduados ou graduandos interessados na formação clínica (APENAS 05 VAGAS)

A PROPOSTA INCLUI SALA PARA ATENDIMENTO CLÍNICO E SUPERVISÃO DE CASOS

UM MÓDULO POR MÊS (SÁBADO) 8HS

SÃO 280HS MÓDULOS BÁSICOS + 120HS MÓDULOS ESPECÍFICOS ÁREA CLÍNICA

CERTIFICAÇÃO PELA UNAT-BRASIL

LOCAL: EGO CLÍNICA E CONSULTORIA (RUA ONDINA, 44 - REDENTORA - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP) www.facebook.com.br/egoclinica 

INTERESSADOS, DÚVIDAS, MAIS INFORMAÇÕES, INSCRIÇÕES PARA ENTREVISTA: 17 32332556 - com Kátia Ricardi de Abreu - Psicóloga CRP 06/15951-5, Especialista em Análise Transacional, Membro Certificado Clínico pela ALAT e pela UNAT-BRASIL, Membro Didata em formação pela UNAT-BRASIL. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

RELACIONAMENTOS ELÁSTICOS









 publicado na Revista Bem-Estar, Diário da Região, 27/10/2013




Encontrei-a ali, braços envolvendo as pernas dobradas, cabeça enterrada no colo feito bicho assustado. Ao olhar para mim, seus olhos vermelhos de tanto chorar continuaram a despejar lágrimas que desciam grossas enquanto, entre soluços, sua boca balbuciava algumas palavras após a minha pergunta: - O que houve? Conte-me!
Parecia uma adolescente me relatando o rompimento com o namorado. Porém, ela não era adolescente e o que me intrigou: não se tratava de um rompimento.
Aquela relva verde e macia era um convite para uma caminhada. Estendi a ela minha mão para tirá-la daquela posição quase fetal e apontei a estrada com um gesto imperativo e protetor: “vamos por aqui!”. Para minha alegria, ela segurou em minha mão e num impulso, se levantou. E enquanto caminhávamos e sorvíamos o sol pintar o céu de tons rubros até se esconder, fiquei ouvindo sua narrativa. Enquanto ela se desabafava comigo, lembrei-me do terapeuta americano John Gray e pensei: “minha querida, você está dentro de um relacionamento elástico”.

Um elástico se estica até certa distância e então volta. Assim são alguns homens na sua forma de amar. Precisam de distância seguida de aproximação. Isso se repete como um ciclo. Eles se afastam, voltam, se afastam, voltam. Não há rompimento. E pasmem, na fase do afastamento, não há traição. É como se eles estivessem “de dieta” do relacionamento.
E por que isso acontece? Eles não querem compromisso? Temem a intimidade? Temem perder a autonomia e independência e ao mesmo tempo querem amar?
 Homens elásticos se afastam quando se sentem envolvidos demais. Ao contrário do que as mulheres geralmente pensam: - Ele não gosta mais de mim! – ele está tão apaixonado que precisa de um tempo para administrar seus sentimentos, inseguranças, ciúmes, enfim, precisa de um tempo para reorganizar-se.
Quando os homens elásticos se reaproximam, tendem a agir normalmente, sem explicações, sem justificativas, como se nada houvesse acontecido. Afastam-se por três, quatro semanas e ligam dizendo “olá!” como se tivessem aparecido no dia anterior. E há aqueles que dizem: - Sumida! Aí, a pessoa não sabe se está ficando louca ou se já ficou. – Eu? Sumida? Tem certeza?
Não adianta ficar maquinando o que foi que fez de errado, o que falou que ele não gostou, qual foi a situação que causou o afastamento. Nananinanão! O homem elástico se afastará mesmo que a mulher nada tenha feito e isso não tem relação com falta de amor. É algo que emerge sem planejar.
Homens elásticos podem enriquecer o relacionamento, quando compreendidos. No período de afastamento, basta as mulheres se distraírem com algo, fazerem suas coisas, se divertirem e deixa-los em paz.
Mulheres do tipo absolutamente seguras entendem que não adianta querer forçar a barra neste momento do ciclo. Não é hora de conversar, de cobrar, de discutir a relação. Quando eles se reaproximarem, elas podem necessitar de um tempo para a reconexão e podem expressar o desapontamento e todos os sentimentos que este afastamento nelas provocou. Sem dramas.
A boa notícia é: pode ocorrer de, numa destas fases de afastamento dos homens elásticos, as mulheres se depararem com algum homem plenamente não elástico. Porque para alegria de todas e felicidade geral da nação, eles existem, claro!
E então, os homens elásticos, ao voltarem para aquele lugarzinho aparentemente cativo no coração das mulheres, o encontrarão o-cu-pa-do. C’est la vie!

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga Clínica e Organizacional especialista em Análise Transacional, Diretora da Ego Clínica e Consultoria. www.katiaricardi.com.br

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A ARTE DE CUIDAR








         As emoções são públicas. Os sentimentos, privados. Nós, psicólogos, temos o privilégio de saber qual é o sentimento de nossos clientes. Trazemos à tona os sofrimentos secretos, guardados no âmago da alma, retirando os espinhos que ficaram armazenados nela ao longo de nossa trajetória de vida.
Todas as dificuldades emocionais são curáveis, dizia Eric Berne. Apoiada nisso, trabalho há 32 anos e hoje, 27 de agosto, dia do Psicólogo, quero agradecer a todos os meus clientes, que já passaram pela minha sala, pela minha vida tanto na clínica como nas empresas.
Obrigada por acreditarem que eu pude contribuir para o resgate do bem-estar, da posição OK/OK, do retorno de sapo para príncipe e princesa.
Obrigada por depositarem em mim a confiança, compartilhando sentimentos, angústias, esperanças, desejos de um amanhã melhor.
Obrigada por investirem nas relações humanas dentro do ambiente de trabalho.
Obrigada por me aceitarem nas minhas imperfeições, entendendo-me humana, vulnerável às vicissitudes da vida, embora todo meu empenho em me doar neste cuidado comigo e com o outro seja ele quem for, com a plenitude da minha alma.
Obrigada por tantos momentos únicos, de encontro, onde também muito enriqueci com suas histórias de vida, suas experiências, suas tentativas de acertar na busca pela felicidade.
Obrigada por trazerem a mim esta alma aberta, disponível para o crescimento emocional, constante, mesmo quando o sofrimento já passou e continuamos atentos à trajetória da vida com qualidade nas nossas relações interpessoais.
Obrigada por me colocarem na agenda de vocês, por driblarem o trânsito e tantos compromissos para chegarem até a minha sala e deixarem tudo lá fora parado, o celular desligado, para se dedicarem a esta construção do self com a minha contribuição, através do meu conhecimento e disponibilidade humana.
Obrigada por qualificarem a minha existência como pessoa e como profissional, permitindo-me exercitar este ofício de artesã da psiquê.
Aceitem minhas desculpas pelos meus erros e limitações. Posso dizer que, mesmo quando não foi possível atender à expectativa, estava dando o melhor de mim.
Todos vocês contribuíram e contribuem para que eu seja a pessoa que sou. Lidando com situações emocionalmente fortes, eu cresci internamente. Entendendo minhas próprias emoções para me capacitar na escuta descontaminada, eu me fortaleci.
Obrigada, muito obrigada! 

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951-5

domingo, 18 de agosto de 2013

ALÉM DAS FLORES



publicado em 18 de agosto de 2013 na Revista Bem-Estar, Diário da Região




Ela me disse entusiasmada: estou fazendo arranjos, buquês, vasos decorativos, olha só esta foto (e num piscar de olhos a foto apareceu na tela – que beleza!). E ela continuou teclando absurdamente rápido, compartilhando comigo todos os detalhes da sua mais recente conquista: transformar sonho em realidade.
A professora doutora que está virando florista planejou deixar de dar aulas, saturada e desgastada com a profissão, para se dedicar a uma atividade que parece fazê-la sentir-se leve e feliz.
Virar a mesa, mudar o rumo da vida envolve motivação, coragem, planejamento. Eric Berne afirmava que podemos fazer nosso plano de vida consciente e livre de destino. O mundo está repleto de histórias assim: sonhei, fui lá e fiz! Geraldo Vandré cantou: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É a revolução da alma, da carreira, do que quisermos!
Vamos então falar das flores. Aquelas que você colhe porque plantou. Aquelas que você cultiva dia após dia torcendo para que todas as variáveis contribuam para o seu esplendor: água, sol, sombra, terra, adubos, o que mais vier!
Não vamos falar das lamentações enfadonhas que chegam às raias da irritação após o período de tentativas compreensíveis sobre a construção da infelicidade. Sim, porque existem pessoas altamente capacitadas e preparadas, diplomadas e sacramentadas neste assunto: o que fazer para as coisas não darem certo. Quais coisas? Tudo. O casamento, a carreira, os relacionamentos, a vida navega sempre na contramão da felicidade para elas.
Vamos falar só das flores.  Aquelas cuja semente germina no âmago de cada um quando não poupa credibilidade em si para se adentrar em projetos calculadamente estudados. Aquelas flores que nos fazem lembrar à generosidade do Universo, que por meio de tantas espécies, encantam os olhos de quem as vê, na sua singular existência em cada estação do tempo. Somos criaturas nascidas para cultivar nossos dons em benefício da humanidade. É o que fazemos quando colocamos no trabalho o prazer de trabalhar.
Não vamos falar das lutas e labutas para ganhar dinheiro a qualquer preço, sem respeitar a ética das relações com os nossos semelhantes e com a natureza, fazendo da profissão, seja ela qual for, o caminho mais fácil para a amargura de uma consciência pesada e endividada. Com a conta bancária em crédito, mas com a conta moral em débito é possível ser feliz?
Vamos continuar a falar delas, das flores! Da parte boa de cada um que floresce quando encontra sua vocação para a vida, quando descobre a paixão de acordar a cada manhã para fazer o que gosta e voltar para casa trazendo cansaço e realização em todos os sentidos, inclusive financeiro, que neste caso se torna mera consequência.
E assim, tricotei longamente sobre os planos da mais jovem empresária no ramo das flores, a professora doutora que se cansou de alunos que não querem aprender, de provas que não quer mais aplicar nem corrigir.
 No final da nossa conversa virtual, pedi permissão para ela: “posso escrever algo sobre sua história? Posso falar das flores e da sua coragem de mudar o rumo da sua carreira profissional?” Ela sorriu largamente e disse: “sobre as flores? Claro... mas então aproveite e escreva  que eu estou solteira e que quero mudar também sobre isso, quem sabe alguém se interessa por este detalhe”. Foi então a minha vez de abrir um largo sorriso. A mudança estava acontecendo muito além das flores. E você leitor? Também abriu um sorriso neste momento?

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951-5 especialista em análise transacional

domingo, 30 de junho de 2013

CHIQUE...



Publicado em 31 de junho de 2013 na Revista Bem-Estar, Diário da Região


Não entendo absolutamente nada a respeito de moda. Pelo contrário, vivo por aí errando o visual por pura ignorância e total rebeldia em seguir alguns padrões que não estão de acordo com a natureza da minha personalidade. E longe de mim a ideia de ter um personal style para ditar o que devo usar, onde e quando e por quê. Estou mais para Coco Chanel com aquele tal pretinho básico e fico até aliviada quando leio Danuza Leão corajosamente confessando sua dificuldade em apreciar algumas tendências modernas de justaposições, cores e tais.
No entanto, esta dificuldade em me adequar aos estilos e tendências visuais está no avesso da minha facilidade em buscar cada vez mais o que é chique no interior das pessoas e de mim. São décadas de investimento nesta marca chamada “eu mesma, muito prazer!”. Estou sempre de olho numa “loja” que venda a marca chiquérrima chamada “autoconhecimento”. Acho chique demais quem se conhece.
Vamos esclarecer que chique vem do termo francês chic, que significa elegância. Pois é, penso que é muito chic a pessoa que sabe quem é, que tem consciência de suas mais recônditas imperfeições e nenhum pudor em reconhecer suas tão conquistadas habilidades. É um investimento e tanto saber seus pontos fracos e fortes.
Como é chique quem sabe se ouvir, sabe ouvir o outro, sabe quando falar, quando calar. Uma pessoa chic fala na medida certa, sai de cena na hora certa e aparece no palco da vida com a mais pura autenticidade.
Uma pessoa chique diz “eu não sei” quando realmente não sabe e dificilmente ela pensa que sabe quando não sabe. Lembro-me da Conferência que assisti em Belo Horizonte com o norte-americano Richard Gordon Erskine, renomado profissional que desenvolveu os postulados de Eric Berne através da psicoterapia integrativa. Quando uma pessoa da plateia fez a ele uma pergunta sobre o desenvolvimento emocional na vida intrauterina, ele respondeu com a maior naturalidade: “eu não sei nada sobre isso. Não tive tempo de estudar o que acontece com a criança antes de nascer, porque passei toda a minha vida tentando entender o que acontece com ela depois que nasce”. Que coisa mais chique saber que não sabe e dizer isso para uma plateia imensa, para poucas pessoas, para uma pessoa e principalmente, para si.
Considero elegante e muito chique quem olha nos olhos até ver a alma. Certo dia uma pessoa me cumprimentou, e ao fazer isso olhei nos olhos dela para encontra-los, mas eles já estavam em outro ponto do salão. Uma rapidez danada, procurando quem era o próximo a cumprimentar. Mais dois segundos e ela conseguiria me ver.
Chique é abrir um sorriso, fazer um aceno com a cabeça ou qualquer coisa que o valha, informando que o outro não é invisível. Vamos dar um desconto para distrações que qualquer simples mortal possa ter. Principalmente aqueles como eu que têm uma dificuldade, a prosopagnosia. Verdadeiro alívio foi quando descobri que sou prosopagnósica, ou seja, tenho dificuldades de reconhecer faces de pessoas fora do ambiente no qual estou habituada a encontra-las, levo mais tempo para lembrar de onde as conheço e já passei muito vexame por conta disso. A má notícia é que não existe tratamento nem esperança de cura num futuro próximo. Então, se a pessoa sorri eu correspondo, e fico coletando todos os dados possíveis para me lembrar logo quem é ela e de onde a conheço. Mas se não consigo, prefiro confessar. Chique é ser autêntico, então tá! Sou prosopagnósica, pronto, e daí?
                Quanto mais chique a pessoa é, mais simples ela se torna. Suas atitudes e modos podem se distanciar às vezes das mais conhecidas etiquetas de salão e marcas do mercado fashion, mas tudo isso é nada pela sua postura chiquérrima de ser simplesmente quem ela realmente é.

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga, Diretora da EGO Clínica e Consultoria, especialista e Análise Transacional

terça-feira, 14 de maio de 2013

TEMPOS DIFÍCEIS?






 publicado na Revista Bem-Estar, Diário da Região, 12 de maio 2013

Conta o vocalista da banda Jota Quest que uma pessoa da família lhe pediu: “faz uma música fácil de cantar!” O pedido foi atendido: “Fácil, extremamente fácil, pra você, eu e todo mundo cantar juntos”.
Transportando para a vida, será que é possível tornar a vida fácil? Para você, eu e todo mundo vivermos juntos? Podemos compor uma vida onde impera a harmonia dentro de nós e nos nossos relacionamentos?
Muitas vezes observo as pessoas dificultando a realidade, fazendo manobras habilidosas para tornar as coisas mais difíceis do que poderiam ser. Por que? Por falta de conhecimento de atalhos ou de caminhos mais diretos que poderiam leva-las sem tantos desgastes aos objetivos almejados. Muitas nem mesmo se arriscam a darem os primeiros passos por perceberem a realidade através das vidraças embaçadas de seus próprios referenciais. Diante de cada possível solução, elas automaticamente dizem: “é difícil!” e colocam um ponto final, sem investir muito pensamento.
Mas, assim como a canção, há quem torne a vida lucidamente fácil. Simples sem ser simplista.  Simples e rica, bela, dinâmica, norteando ações cujo resultado pode ser uma vida farta de boas surpresas.
Vida fácil não é aquela na qual tudo vem de “mão beijada”, sem fazer qualquer tipo de empenho. Porque se torna difícil conviver com tantas facilidades que não foram conquistadas, que não brotaram das próprias escolhas.
 Vida fácil não é aquela na qual o dinheiro resolve tudo (resolve mesmo?) ou na qual as preocupações não existem ou são banais. Porque se torna difícil conviver com o tédio.
 Vida fácil pode ser a sua, a minha, a vida de qualquer pessoa que aceita a realidade sem conformismo, com sabedoria e gratidão. Podemos fazer movimentos para mudar a realidade com atitudes equilibradas, prezando acima de tudo o respeito a si ao invés de criarmos expectativas muito altas em relação às nossas metas, às pessoas, às situações que não estão sob nosso controle.
Situações potencializadas e denominadas “problemas” sem solução ou de difícil solução, são construídas nas nossas mentes e nos fazem acreditar que a vida não é nada fácil, não pode ser fácil para ninguém, principalmente nestes tempos tão difíceis, ora!
E quando os tempos não foram difíceis? Charles Dichens já em 1854 escreveu a obra “Tempos Difíceis”, importante contribuição que introduziu a crítica social na literatura de ficção inglesa. Naquela época, áreas trágicas da vida e da opressão humana foram relatadas no estilo romance.
Na nossa sociedade contemporânea, temos tragédias e temos dificuldades sim, mas qual é o tempo que dedicamos às lamentações sobre elas? Qual é a energia que consumimos durante a fase: “não acredito que isso está acontecendo e pior, acontecendo comigo!” Há quem fique muito mais tempo do que o necessário nesta fase, sem perceber que a paisagem mudou, a chuva passou e o sol já está brilhando lá fora. Porque é muito mais fácil ficar se lamentando do que pensar. Sim, pensar na solução. Nas alternativas para seguir adiante. Principalmente quando a solução depende de mudanças pessoais, de adaptações que não estamos dispostos a fazer, de reorganizações internas e externas para transformar lágrimas em sorrisos, distâncias em encontros.Fácil é se vitimizar diante da vida sem assumir responsabilidades e movimentar-se através de ações que promovam o rompimento do que nos causa mal-estar.
 Dentro de nós está a paz e até mesmo as fatalidades podem nos beneficiar no processo evolutivo. Vamos transformar nossas vidas numa canção agradável de cantar, escrevendo nossa história dia a dia com episódios inéditos e inesquecíveis.
Fácil assim!






Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga Clínica  especialista em Análise Transacional e consultora de empresas
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