domingo, 2 de dezembro de 2018

AS DORES NOSSAS DE CADA DIA





“Ali onde eu chorei,
Qualquer um chorava”
Volta por Cima – Paulo Vanzolini

A vida tem altos e baixos. Alegrias e tristezas.  Ingenuidade pensar que não vamos sofrer nunca por nada. E o quanto sabemos lidar com a dor e com o sofrimento, quando aparecem batendo na porta, sem avisar?
Muitas pessoas querem afastar a dor ou evitá-la. Mas, há quem acredite que as dores e o sofrimento são grandes motivadores para transformações.
O filósofo, escritor e poeta alemão Friedrich Nietzsche, que adorava escalar montanhas e apreciar a paisagem lá no topo, dizia que a vida se assemelha a uma escalada, que por sua vez, tem uma difícil trilha para se chegar até o topo. E para escalar e percorrer essa difícil trilha, haverá momentos de sofrimento e dor. Quem não quiser sentir dor, não quiser viver o sofrimento não vai ter a grande sensação de lá em cima, apreciar a beleza da paisagem, no topo da montanha. Ou seja, as alegrias e conquistas são decorrentes de dores e experiências de sofrimento.
Pacientes que tiveram câncer de mama, também já me relataram suas transformações para melhor, devido às experiências que tiveram no decorrer do processo de tratamento.
Quando a dor bater à sua porta (toc-toc-toc!), você pode negar a dor, fazer de conta que ela não existe. Pessoas assim, não falam sobre a dor que sentem, não querem fazer contato com a dor. A psicoterapia é algo que não as atrai justamente por causa disso. Imaginam que durante as sessões, mais cedo ou mais tarde, irão se lembrar de algo que causou ou poderá causar dor. Então desenvolvem habilidades para desviar o foco para vários comportamentos como: fazer uso abusivo de bebidas alcoólicas (beber para não pensar, beber para não sentir), consumir drogas, mergulhar em relacionamentos sem elaborar o luto do anterior. E mais: encher-se de atividades, se entupir de trabalho, de compras, de viagens, não pelo prazer que estas atividades podem proporcionar, mas como mecanismo de defesa para negar a dor emocional. Mas, esta é uma forma de não receber a mensagem que a dor trás.
Quando a dor bater à sua porta (toc-toc-toc!), você pode abraçar a dor, dar a ela espaço permanente na sua vida, torna-la sua companheira para sempre. Pessoas assim, falam sobre a dor o tempo todo, fazem tudo para propaga-la porque estão ancoradas nela. Passam a vida sofrendo, com mágoas e ressentimentos de algo que aconteceu e continua acontecendo na mente delas.  Alimentam a dor e como vítimas, passam a vida acariciadas pelo sofrimento. Também são resistentes à psicoterapia. Falam sobre suas dores, mas não com profissionais. Falam com amigos, vizinhos, colegas de trabalho, familiares, com muita habilidade para contar sobre a dor e justificar os motivos pelos quais a sente e a sentirá para o resto da vida.  Mas, também não observam a mensagem que a dor está trazendo. Então elas não conseguem aprender com a dor.
Quando a dor bater à sua porta (toc-toc-toc!), ao perceber o sofrimento, você pode perguntar: o que você traz para mim? Qual é a sua mensagem? O que você quer de mim? O que você quer me ensinar? Como você pode contribuir como mecanismo de mudança na minha vida? O que está por trás desta situação que me leva a você?
Pessoas assim, têm grandes chances de fazer contato com a mensagem trazida pela dor. Não negam, não justificam, não têm medo da dor.
As dores de amor, são um dos principais motivos que levam as pessoas à psicoterapia.  Geralmente descobre-se que a dor é decorrente do excesso de projeções sobre a pessoa amada. Constrói-se a imagem da pessoa de determinada forma e quando ela se mostra como verdadeiramente é, sente-se a dor da decepção. Mas quem construiu a expectativa, pode fazer da decepção, um reinício na busca de crescimento. Nossas escolhas estão relacionadas a ganhos, mas também a perdas que podem gerar dores.
Quando o que você espera da vida não acontece, lembre-se: o que importa não é o que acontece ou não acontece, mas o que você faz com isso.
Então, parafraseando a composição de Vanzolini, reconheça a queda, mas não desanime: levante, sacuda a poeira e dê a volta por cima.
Siga em frente e seja uma pessoa melhor, não apesar das dores, mas por causa delas.



Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951 da Ego Clínica e Consultoria
17 997724890  www.katiaricardi.com.br