publicado na Revista Bem-Estar, jornal Diário da Região 20 agosto 2017
Seguir Com, Não Ir a parte Alguma, Livrar-se ou Afastar-se de alguém, são as quatro categorias de operação social dinâmica no final de cada encontro breve ou longo entre as pessoas, de acordo com Franklin Ernst Jr. Tendo como pilares as Posições Existenciais que Eric Berne criou para entendermos o que uma pessoa como eu está fazendo em um mundo destes com pessoas como você, estas operações ajudam a compreender os relacionamentos interpessoais e os vários estados de sentimentos que a pessoa pode experimentar em diversas ocasiões de sua vida.
Seguir Com,
sugere ir em frente, continuar investindo no relacionamento, com credibilidade
em si e no outro. Significa compreender e aceitar as imperfeições próprias e
alheias e apesar dos pesares, não desistir. Contornar, alinhar, discutir a
relação, perdoar, recomeçar quantas vezes for necessário, partindo sempre da
premissa de que cada um tem suas limitações, mas acima delas, há o desejo de
estarem juntos. Casais, amigos, namorados, ficantes, não importa qual é o tipo
de relacionamento, podem ter crises, conflitos, discordâncias, e podem superar
tudo se ambos desejarem muito o prosseguimento deste relacionamento, que pode
mudar de modalidade. Por exemplo: não estarem mais casados, namorados,
ficantes, mas continuarem amigos.
Não Ir a
parte Alguma, ocorre quando não há mais chances de qualquer tipo de
investimento de tempo, energia, afeto, nada, nada, nada. Significa desistir de
se relacionar por falta de credibilidade em si, no outro e em qualquer
relacionamento. Não confundir com a decisão consciente e saudável de desistir
ou não querer entrar em um relacionamento por outras razões. Amargura e solidão, farão parte da vida de
pessoas que não acreditam na capacidade de amar e de serem amadas, muitas vezes
disfarçadas de um discurso contrário a isso, mas de atitudes que boicotam as
possibilidades de aproximações e relações duradouras. Por exemplo, a pessoa recusa
todos os convites do outro para um encontro, porque está com dor de cabeça, ou
porque tem que cuidar do gato, não é um bom dia para sair porque vai chover e
assim por diante, até o outro desistir. Quando os convites cessam ela pensa que
o outro não queria nada mesmo, se quisesse, teria insistido mais.
Livrar-se
do outro inclui buscar motivos, uma lista de razões para justificar porque o
outro não serve, não vai dar certo. Há a crença de que o outro não está à
altura (e nunca ninguém estará!), não faz parte do seu mundo real ou idealizado.
A pessoa se sente “o cara” e nunca vai encontrar outro “cara” que possa
merecê-la. Relacionamentos assim, podem dar certo quando o outro se adapta a
esta desigualdade, mas não vai durar muito tempo porque chega a hora em que,
apesar da adaptação, ocorre a expulsão. Geralmente, livra-se do outro de forma
desqualificadora, arrogante, insensível, sem muitas ou sem alguma explicação. O
outro que vá catar os caquinhos que sobraram da sua alma e se tiver um pouco de
autoestima, poderá se reconstruir.
Afastar-se
do outro é o inverso ou o complemento de Livrar-se do outro. Trata-se da
desistência do relacionamento por aquele que está na posição de não ser “o
cara”. A pessoa se afasta por não conseguir conviver com este sentimento
constante de deixar a desejar. Ela se sente inferior e este sentimento de inferioridade
a leva a abrir mão do relacionamento para não sofrer mais. Pode até doer, mas o
alívio ao vivenciar aquela sensação de menos valia, é a compensação.
Recebo
diariamente pessoas em meu consultório em busca da primeira opção em seus
relacionamentos: Seguir Com. Mas isso não depende apenas de uma das partes.
Para um relacionamento ser saudável, todos os envolvidos precisam investir na
busca de suas resoluções internas, na compreensão da perspectiva do outro, na
escuta qualificada, na presença intensa, inteira, acolhedora, afetuosa. Relacionamentos
são tesouros que brilham na alma e cujo valor não tem preço. Fazem nossa vida
valer a pena e nossa boca se abrir em enorme sorriso quando estamos diante de
pessoas às quais sabemos que podemos Seguir Com. Finalizo com Carlos Drummond
de Andrade: “As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as
coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”.
KÁTIA RICARDI DE ABREU
PSICÓLOGA CRP 06/15951-5 Especialista em
Análise Transacional
17 997724890 Ego Clínica e Consultoria