domingo, 30 de junho de 2013

CHIQUE...



Publicado em 31 de junho de 2013 na Revista Bem-Estar, Diário da Região


Não entendo absolutamente nada a respeito de moda. Pelo contrário, vivo por aí errando o visual por pura ignorância e total rebeldia em seguir alguns padrões que não estão de acordo com a natureza da minha personalidade. E longe de mim a ideia de ter um personal style para ditar o que devo usar, onde e quando e por quê. Estou mais para Coco Chanel com aquele tal pretinho básico e fico até aliviada quando leio Danuza Leão corajosamente confessando sua dificuldade em apreciar algumas tendências modernas de justaposições, cores e tais.
No entanto, esta dificuldade em me adequar aos estilos e tendências visuais está no avesso da minha facilidade em buscar cada vez mais o que é chique no interior das pessoas e de mim. São décadas de investimento nesta marca chamada “eu mesma, muito prazer!”. Estou sempre de olho numa “loja” que venda a marca chiquérrima chamada “autoconhecimento”. Acho chique demais quem se conhece.
Vamos esclarecer que chique vem do termo francês chic, que significa elegância. Pois é, penso que é muito chic a pessoa que sabe quem é, que tem consciência de suas mais recônditas imperfeições e nenhum pudor em reconhecer suas tão conquistadas habilidades. É um investimento e tanto saber seus pontos fracos e fortes.
Como é chique quem sabe se ouvir, sabe ouvir o outro, sabe quando falar, quando calar. Uma pessoa chic fala na medida certa, sai de cena na hora certa e aparece no palco da vida com a mais pura autenticidade.
Uma pessoa chique diz “eu não sei” quando realmente não sabe e dificilmente ela pensa que sabe quando não sabe. Lembro-me da Conferência que assisti em Belo Horizonte com o norte-americano Richard Gordon Erskine, renomado profissional que desenvolveu os postulados de Eric Berne através da psicoterapia integrativa. Quando uma pessoa da plateia fez a ele uma pergunta sobre o desenvolvimento emocional na vida intrauterina, ele respondeu com a maior naturalidade: “eu não sei nada sobre isso. Não tive tempo de estudar o que acontece com a criança antes de nascer, porque passei toda a minha vida tentando entender o que acontece com ela depois que nasce”. Que coisa mais chique saber que não sabe e dizer isso para uma plateia imensa, para poucas pessoas, para uma pessoa e principalmente, para si.
Considero elegante e muito chique quem olha nos olhos até ver a alma. Certo dia uma pessoa me cumprimentou, e ao fazer isso olhei nos olhos dela para encontra-los, mas eles já estavam em outro ponto do salão. Uma rapidez danada, procurando quem era o próximo a cumprimentar. Mais dois segundos e ela conseguiria me ver.
Chique é abrir um sorriso, fazer um aceno com a cabeça ou qualquer coisa que o valha, informando que o outro não é invisível. Vamos dar um desconto para distrações que qualquer simples mortal possa ter. Principalmente aqueles como eu que têm uma dificuldade, a prosopagnosia. Verdadeiro alívio foi quando descobri que sou prosopagnósica, ou seja, tenho dificuldades de reconhecer faces de pessoas fora do ambiente no qual estou habituada a encontra-las, levo mais tempo para lembrar de onde as conheço e já passei muito vexame por conta disso. A má notícia é que não existe tratamento nem esperança de cura num futuro próximo. Então, se a pessoa sorri eu correspondo, e fico coletando todos os dados possíveis para me lembrar logo quem é ela e de onde a conheço. Mas se não consigo, prefiro confessar. Chique é ser autêntico, então tá! Sou prosopagnósica, pronto, e daí?
                Quanto mais chique a pessoa é, mais simples ela se torna. Suas atitudes e modos podem se distanciar às vezes das mais conhecidas etiquetas de salão e marcas do mercado fashion, mas tudo isso é nada pela sua postura chiquérrima de ser simplesmente quem ela realmente é.

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga, Diretora da EGO Clínica e Consultoria, especialista e Análise Transacional

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