Publicado em 31 de junho de 2013 na Revista Bem-Estar, Diário da Região
Não entendo
absolutamente nada a respeito de moda. Pelo contrário, vivo por aí errando o
visual por pura ignorância e total rebeldia em seguir alguns padrões que não
estão de acordo com a natureza da minha personalidade. E longe de mim a ideia
de ter um personal style para ditar o
que devo usar, onde e quando e por quê. Estou mais para Coco Chanel com aquele
tal pretinho básico e fico até aliviada quando leio Danuza Leão corajosamente
confessando sua dificuldade em apreciar algumas tendências modernas de
justaposições, cores e tais.
No entanto,
esta dificuldade em me adequar aos estilos e tendências visuais está no avesso
da minha facilidade em buscar cada vez mais o que é chique no interior das
pessoas e de mim. São décadas de investimento nesta marca chamada “eu mesma,
muito prazer!”. Estou sempre de olho numa “loja” que venda a marca chiquérrima
chamada “autoconhecimento”. Acho chique demais quem se conhece.
Vamos
esclarecer que chique vem do termo francês chic,
que significa elegância. Pois é, penso que é muito chic a pessoa que sabe
quem é, que tem consciência de suas mais recônditas imperfeições e nenhum pudor
em reconhecer suas tão conquistadas habilidades. É um investimento e tanto
saber seus pontos fracos e fortes.
Como é
chique quem sabe se ouvir, sabe ouvir o outro, sabe quando falar, quando calar.
Uma pessoa chic fala na medida certa, sai de cena na hora certa e aparece no
palco da vida com a mais pura autenticidade.
Uma pessoa
chique diz “eu não sei” quando realmente não sabe e dificilmente ela pensa que
sabe quando não sabe. Lembro-me da Conferência que assisti em Belo Horizonte
com o norte-americano Richard Gordon Erskine, renomado profissional que
desenvolveu os postulados de Eric Berne através da psicoterapia integrativa.
Quando uma pessoa da plateia fez a ele uma pergunta sobre o desenvolvimento
emocional na vida intrauterina, ele respondeu com a maior naturalidade: “eu não
sei nada sobre isso. Não tive tempo de estudar o que acontece com a criança
antes de nascer, porque passei toda a minha vida tentando entender o que
acontece com ela depois que nasce”. Que coisa mais chique saber que não sabe e
dizer isso para uma plateia imensa, para poucas pessoas, para uma pessoa e
principalmente, para si.
Considero
elegante e muito chique quem olha nos olhos até ver a alma. Certo dia uma pessoa
me cumprimentou, e ao fazer isso olhei nos olhos dela para encontra-los, mas
eles já estavam em outro ponto do salão. Uma rapidez danada, procurando quem
era o próximo a cumprimentar. Mais dois segundos e ela conseguiria me ver.
Chique é
abrir um sorriso, fazer um aceno com a cabeça ou qualquer coisa que o valha,
informando que o outro não é invisível. Vamos dar um desconto para distrações
que qualquer simples mortal possa ter. Principalmente aqueles como eu que têm
uma dificuldade, a prosopagnosia. Verdadeiro alívio foi quando descobri que sou
prosopagnósica, ou seja, tenho dificuldades de reconhecer faces de pessoas fora
do ambiente no qual estou habituada a encontra-las, levo mais tempo para
lembrar de onde as conheço e já passei muito vexame por conta disso. A má
notícia é que não existe tratamento nem esperança de cura num futuro próximo.
Então, se a pessoa sorri eu correspondo, e fico coletando todos os dados
possíveis para me lembrar logo quem é ela e de onde a conheço. Mas se não
consigo, prefiro confessar. Chique é ser autêntico, então tá! Sou prosopagnósica,
pronto, e daí?
Quanto mais chique a pessoa é, mais simples ela se
torna. Suas atitudes e modos podem se distanciar às vezes das mais conhecidas
etiquetas de salão e marcas do mercado fashion,
mas tudo isso é nada pela sua postura chiquérrima de ser simplesmente quem ela
realmente é.
Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga, Diretora da EGO Clínica e Consultoria, especialista e
Análise Transacional
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