segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MEDEIA E A FÚRIA NARCÍSICA

Vamos refletir sobre relações amorosas, a dor diante das rupturas e as possibilidades de elaborações.
Após uma separação, é muito frequente alimentar ressentimento em relação ao ex parceiro. A dor vivenciada com a culpabilização do outro, coloca-o na posição de algoz enquanto se permanece na clássica posição de vítima. Este sentimento, no entanto, torna inviável a superação.
Quem não ouviu falar em Medeia? Figura mítica de mulher que tudo sacrificou em nome de sua exigência de amor por um homem, para obter o amor de Jasão, não hesitou em perpetrar todo tipo de transgressão, inclusive matar os próprios filhos.
Temos então, o protótipo da mulher que busca exclusividade no desejo de um homem. Quando perde o amor do seu homem ela “se” perde. Experimenta a angústia não da perda real do objeto amado, mas da perda do amor por parte dele. Seu medo é ser abandonada pelo parceiro e perder seu amor, porque tem necessidade e total dependência uma vez que abdicou de sua própria vida em favor dele. Isso a faz pensar que poderá exigir o amor deste homem, pedir provas como recompensa por sua dedicação. Sua fragilidade narcísica percebe o parceiro como indispensável ao seu equilíbrio e isso a faz lançar mão do controle e da posse. Acusa-o de traidor pelo simples fato de existir fora da relação. Nada pode ser feito sem que ela esteja incluída e qualquer outro relacionamento passa a ser ameaçador.
De objeto desejado, temos na paixão patológica, perversão do amor, o objeto necessário, insubstituível, e sua perda implicaria em aniquilamento. A ansiedade de perde-lo faz aumentar a cobrança, a avidez, o controle e ela finalmente o perde. Quando constata que este amor é oferecido a outra mulher, suas emoções são extremas e podem chegar a altos graus de destrutividade com a perda do controle da razão.
A pessoa narcisicamente vulnerável, se acomete por sentimentos de fúria, quando o objeto amado deixa de viver de acordo com as expectativas que depositou nele. Esta fúria narcísica responde a uma ferida narcísica. Surge então necessidade de vingança, perseguição àquele que é identificado como algoz. Visto como inimigo, passa a ser alvo de destruição e a heroína de Eurípedes deseja-lhe os mesmos sofrimentos e humilhações por ela vividos. A atitude vingativa imbuída de irracionalidade, revela sua agressividade arcaica. O ódio e a satisfação sádica do sofrimento e degradação do objeto amado, entram em ação. O amor não pode ser renunciado. Assim, Medeia é personificada em crimes passionais e em processos tramitando em Varas de Família.
Sigmund Freud, em “Luto e Melancolia”, indica a necessidade de um tempo determinado para o trabalho de luto ser concluído e o ego se ver novamente livre e desinibido para novas investidas libidinais. A ruptura de uma relação amorosa requer um trabalho psíquico, e elaboração de um processo de luto. A Medeia sente dificuldade em elaborar este luto, sua ferida dói não porque perdeu o objeto amado, mas porque perdeu um lugar que julga ser seu de direito. Ela quer reconhecimento de um suposto valor.
A melancolia indica que um trabalho de luto não pôde ser realizado, a libido não foi retirada do objeto amado e isso impede qualquer outro investimento afetivo.
As separações litigiosas, mantidas durante anos, são alimentadas quando os envolvidos não conseguem elaborar a separação psiquicamente. Mais do que contrariedades e frustrações vivenciadas em qualquer rompimento, torna-se ofensivo para aqueles que têm intensas necessidades narcísicas, constatar que o outro é independente e está conseguindo gerenciar sua vida após o rompimento.
A capacidade de reparação depende da maturidade do casal e a ruptura poderá despertar soluções criativas em prol da felicidade em substituição a movimentos que levam à destruição, desgaste e mais conflitos. Cada parceiro pode assumir a sua parte da responsabilidade nesta história que vinha sendo construída por ambos. Perdoar, analiticamente falando, não significa esquecer. Implica reconhecimento do próprio desamparo e o do outro.
Citando as palavras sobre o Amor Fino, de Padre Antônio Vieira, em “Sermões”: Quem ama porque o amam é agradecido. Quem ama para que o amem é interesseiro. Quem ama não porque o amam nem para que o amem, só esse é fino.
Eu diria que só esse é amor! Quando se rompe um relacionamento, podem acabar todas as formas de amar, menos uma:  o amor de ser humano para ser humano. Qualquer um é digno de receber este amor, principalmente aquele que já partilhou momentos que não serão esquecidos porque foram bons.

Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951-5 especialista em Análise Transacional

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

ENTREVISTA TV TEM "EXAGEROS"

O Programa DE PONTA A PONTA, TV TEM, exibido sábado, 12/12/15, abordou o tema "EXAGEROS" e contou com a minha participação comentando o assunto. Abaixo, os links de dois momentos de exibição da matéria:

O homem mais tatuado do mundo:
http://gshow.globo.com/TV-Tem/De-Ponta-a-Ponta/videos/t/edicoes/v/o-homem-mais-tatuado-do-brasil/4667617/

Estilo Elke Maravilha:
http://gshow.globo.com/TV-Tem/De-Ponta-a-Ponta/videos/t/edicoes/v/estilo-elke/4667635/


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O QUE TENHO DE MIM

Foi um ano difícil! Muito difícil!
E justamente por esta razão, sou grata.
Posso dizer que todas as dificuldades pelas quais passei - e ainda passo - contribuem para que muitas transformações ocorram dentro de mim.

Consegui aprender boas lições sobre a vida, sobre as pessoas... Consegui modificar conceitos, agregar valores. Fui fundo na dor e no amor. Me machuquei e me curei.

No final do ano passado, perdi a consciência, caí, bati a cabeça no chão duro do banheiro da minha casa e fiquei com parte do rosto cheio de hematomas. Milagrosamente nada aconteceu além dos hematomas, que lentamente desapareceram do meu rosto ao longo dos meses.

No meu processo interno, não tive um chão duro para cair, porque simplesmente não encontrei o chão. Sabe aquela expressão "perdi o chão"? Pois é... foi assim! Flutuei no ar sem encontrá-lo e agarrada na minha fé, descobri minhas asas fortes... saí voando como a borboleta que deixa seu casulo e fui borboletear ao encontro de almas nobres e no colo seguro de Deus. Os hematomas invisíveis encontraram o bálsamo da cura na aceitação de mim como sou e na aceitação do outro como ele é.

Algumas fontes secaram e outras jorraram abundantes, de tal forma que saí saciada e enriquecida com o que tenho. Com o que tenho de mim!
E o que tenho de mim, é tudo que vou levar desta vida.

Foi um ano no qual exercitei a criatividade. Fiz vasos, plantei mudas e cuidei delas. Consegui realizar um antigo sonho: cultivar uma pequena horta de temperos e ervas. Com elas, a culinária também se tornou mais criativa.

Também consegui exercitar o desapego. Será o primeiro Natal sem o Bruno, meu primogênito. Não faço ideia de como vou me sentir. Lembro-me de que, no seu primeiro ano de vida, fiquei ao lado do berço imaginando como Maria se sentiu quando se tornou mãe de Jesus. Hoje, fico imaginando como ela se sentiu quando seu filho andou com "estranhas ideias" para aquele tempo.
O que tenho é o consolo de que, onde ele estiver, estará bem.

Para vocês meus leitores, fica a minha gratidão pelo compartilhamento das minhas emoções e experiências! As estatísticas registram que houve mais de 4.000 acessos aos textos que escrevi neste blog em 2015. Isso me faz pensar que talvez alguém tenha aproveitado alguma coisa e que minha missão nesta vida terrena está sendo cumprida.

Considero-me um ser espiritual vivendo uma experiência humana. Quando deixar esta "casca" irei embora com tudo o que tenho. Tudo o que tenho de mim!

Que a luz brilhe nos nossos corações intensamente em benefício do amor! Feliz Natal! Feliz 2016!



Kátia Ricardi de Abreu