5:36 acusa
o relógio. Na cozinha, de banho tomado, cabelos molhados ainda, sento-me para
aquele momento predileto do dia. Lá está ele me esperando, me convidando, me
seduzindo, me preparando para um dia inteiro de prazer. Cheiroso, saboroso,
temos uma atração química fantástica. Não consigo imaginar minha vida sem ele. Estou
falando do meu café matinal. Café mesmo, aquele coado na hora, com as
espuminhas e a fumacinha saindo do copo. Sim, no copo acho mais gostoso do que
na xícara. Mas se for na xícara, tomo do mesmo jeito.
De olhos
fechados e quase de joelhos para sorver o primeiro gole, estremeço com um
estrondo já esquecido. Parece trovão misturado com barulho de chuva. Em tempos
de seca, terra árida, poeira, tosse e companhia, ouvir estes sons emparelhados
com o sabor do café, é algo fantástico. O milagre do dia – pensei. A chuva? O
café? Os dois.
Mas muitos
outros milagres estavam ainda por acontecer. O café, as trovoadas e a chuva,
foram apenas a introdução para uma série de acontecimentos comuns, normais,
rotineiros que, revestidos de amor em cada segundo, se transformam em milagres
da vida cotidiana.
E assim
podem ser a sua, a minha, as nossas vidas. Ficamos aguardando as férias, as
viagens, algo que saia da rotina e do convencional quando temos diante de nós
cada segundo que não se repetirá e que talvez não estejamos dando a ele a honra
de nos fazer sentir bem-estar diante da sua simplicidade.
A
ansiedade, uma das principais dificultadoras do bem-estar, empurra a mente para
o futuro sem permitir a conexão com o momento presente, o contato com a
realidade interna e externa no aqui e agora. Interrompendo frases, sobrepondo
ideias, chacoalhando as pernas, tamborilando os dedos, apertando os dentes, o
ansioso atropela a si e perde o espetáculo de vivenciar seus próprios milagres.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, são 33% da população mundial. No
Brasil, a terceira principal razão de afastamentos do trabalho de acordo com a
Previdência Social, que realiza cerca de 200 milhões em pagamentos a benefícios
anuais, a ansiedade vem tomando conta da vida de pessoas que desprezam a
importância dos cuidados preventivos, os primeiros sinais de desconforto ou um
simples tratamento e acabam desenvolvendo o distúrbio que coloca o Brasil
sempre entre os primeiros da lista da OMS.
Desdobrada
em muitos males como fobias e alguns tipos de transtornos como: do pânico, obsessivo-compulsivo, de estresse
pós-traumáticos, de ansiedade social ou de ansiedade generalizada, a ansiedade
se tornou uma das principais vilãs do mundo moderno. O excesso de urbanidade e
a privação social, chegam a inviabilizar uma vida que poderia ser repleta de
prazeres.
A ansiedade
traz o amanhã para o hoje e massacra as experiências tão bem preparadas pelo
Universo para um encontro intenso. Pulsa a vida, na sua magnitude real enquanto
a desprezamos mergulhados em nossa fértil imaginação sobre como será daqui a
pouco.
Certo dia
perguntei a uma amiga: - Como você está? E ela me respondeu: - Estou bem, “agora”.
Em seguida metralhei-a com mais três perguntas: - Mas o que houve? Porque “agora”?
Aconteceu alguma coisa? Calmamente, ela me respondeu: estou bem “agora”, porque
não posso dizer como estarei nos próximos minutos. Estou conectada com meu bem-estar
neste momento da sua pergunta – disse ela. Ah, que alívio – pensei. Ela está
bem. Não importa o ontem nem o amanhã, ela está bem “agora”. E isso basta.
Aprender a
ficar na realidade presente e desfrutar é um exercício que fiz às 5:36 quando
eu estava sorvendo meu café ao som de trovoadas. Foi o registro de um dos meus
milagres da vida cotidiana, que compartilho agora com você, amigo leitor,
convidando-o a colocar sua mente na beleza de seus momentos presentes.
Planejar o
futuro é saudável. Vivê-lo como se fosse o presente, é impossível. “Não apresse
o rio. Ele corre sozinho” (Barry Stevens).
Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951-5 da Ego Clínica
17 32332556/17 997724890
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