“Ali onde eu chorei,
Qualquer um chorava”
Volta por Cima – Paulo Vanzolini
A vida tem
altos e baixos. Alegrias e tristezas. Ingenuidade pensar que não vamos sofrer nunca
por nada. E o quanto sabemos lidar com a dor e com o sofrimento, quando
aparecem batendo na porta, sem avisar?
Muitas
pessoas querem afastar a dor ou evitá-la. Mas, há quem acredite que as dores e
o sofrimento são grandes motivadores para transformações.
O filósofo,
escritor e poeta alemão Friedrich Nietzsche, que adorava escalar montanhas e
apreciar a paisagem lá no topo, dizia que a vida se assemelha a uma escalada,
que por sua vez, tem uma difícil trilha para se chegar até o topo. E para
escalar e percorrer essa difícil trilha, haverá momentos de sofrimento e dor.
Quem não quiser sentir dor, não quiser viver o sofrimento não vai ter a grande
sensação de lá em cima, apreciar a beleza da paisagem, no topo da montanha. Ou
seja, as alegrias e conquistas são decorrentes de dores e experiências de sofrimento.
Pacientes
que tiveram câncer de mama, também já me relataram suas transformações para
melhor, devido às experiências que tiveram no decorrer do processo de
tratamento.
Quando a
dor bater à sua porta (toc-toc-toc!), você pode negar a dor, fazer de conta que
ela não existe. Pessoas assim, não falam sobre a dor que sentem, não querem
fazer contato com a dor. A psicoterapia é algo que não as atrai justamente por
causa disso. Imaginam que durante as sessões, mais cedo ou mais tarde, irão se
lembrar de algo que causou ou poderá causar dor. Então desenvolvem habilidades
para desviar o foco para vários comportamentos como: fazer uso abusivo de
bebidas alcoólicas (beber para não pensar, beber para não sentir), consumir drogas,
mergulhar em relacionamentos sem elaborar o luto do anterior. E mais: encher-se
de atividades, se entupir de trabalho, de compras, de viagens, não pelo prazer
que estas atividades podem proporcionar, mas como mecanismo de defesa para negar
a dor emocional. Mas, esta é uma forma de não receber a mensagem que a dor
trás.
Quando a
dor bater à sua porta (toc-toc-toc!), você pode abraçar a dor, dar a ela espaço
permanente na sua vida, torna-la sua companheira para sempre. Pessoas assim, falam
sobre a dor o tempo todo, fazem tudo para propaga-la porque estão ancoradas
nela. Passam a vida sofrendo, com mágoas e ressentimentos de algo que aconteceu
e continua acontecendo na mente delas.
Alimentam a dor e como vítimas, passam a vida acariciadas pelo
sofrimento. Também são resistentes à psicoterapia. Falam sobre suas dores, mas
não com profissionais. Falam com amigos, vizinhos, colegas de trabalho,
familiares, com muita habilidade para contar sobre a dor e justificar os
motivos pelos quais a sente e a sentirá para o resto da vida. Mas, também não observam a mensagem que a dor
está trazendo. Então elas não conseguem aprender com a dor.
Quando a
dor bater à sua porta (toc-toc-toc!), ao perceber o sofrimento, você pode
perguntar: o que você traz para mim? Qual é a sua mensagem? O que você quer de mim?
O que você quer me ensinar? Como você pode contribuir como mecanismo de mudança
na minha vida? O que está por trás desta situação que me leva a você?
Pessoas
assim, têm grandes chances de fazer contato com a mensagem trazida pela dor. Não
negam, não justificam, não têm medo da dor.
As dores de
amor, são um dos principais motivos que levam as pessoas à psicoterapia. Geralmente descobre-se que a dor é decorrente
do excesso de projeções sobre a pessoa amada. Constrói-se a imagem da pessoa de
determinada forma e quando ela se mostra como verdadeiramente é, sente-se a dor
da decepção. Mas quem construiu a expectativa, pode fazer da decepção, um
reinício na busca de crescimento. Nossas escolhas estão relacionadas a ganhos,
mas também a perdas que podem gerar dores.
Quando o
que você espera da vida não acontece, lembre-se: o que importa não é o que
acontece ou não acontece, mas o que você faz com isso.
Então,
parafraseando a composição de Vanzolini, reconheça a queda, mas não desanime: levante,
sacuda a poeira e dê a volta por cima.
Siga em
frente e seja uma pessoa melhor, não apesar das dores, mas por causa delas.
Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga CRP 06/15951 da Ego
Clínica e Consultoria
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