“Enfim, de tudo o que há na Terra
Não há nada em lugar nenhum
Que vá crescer sem você chegar
Longe de ti tudo parou
Ninguém sabe o que eu sofri”
Djavan
Emoções
negativas não fazem bem à saúde. Mas que elas existem, elas existem. Impossível
não sentir desconforto por alguma situação ocorrida, alguma palavra ou atitude.
A
convivência em grupo, no ambiente de trabalho, familiar, social ou conjugal,
nos expõe vez ou outra a sentimentos indesejáveis, que descem quadrado goela
abaixo, mesmo que o relacionamento seja sólido o suficiente para sobreviver às
dores da alma que surgem. Tais dores têm variações na sua intensidade,
considerando a estrutura psíquica de cada ser humano. O mesmo estímulo pode ser
recebido de forma diferente por cada um. Aquilo que não afeta a um, pode ser
traumático para outro.
Vamos falar
das dores que causam grande impacto. Aquelas dores que sangram invisivelmente. Temos
que falar baixinho à noite com a cabeça no travesseiro no escuro do quarto: vai
passar, vai passar, vai passar... e parece que não vai passar nunca!
Nossa
estrutura psíquica, quando fortalecida, poderá se sustentar nestes momentos com
maestria, tirando proveito das lições e se reformulando, se lapidando, com enfrentamento
e coragem para adquirir compreensão e discernimento, clareza e consciência. As
perguntas que podem ajudar: como cheguei a isso? Como posso seguir adiante? Como
me posicionar diante de mim? O que aprendi com esta situação?
A dor é
inevitável, mas o sofrimento é opcional quando entramos em reflexões, diálogos
internos que podem nos levar à mudanças e transformações. Finalmente, quando
nos lembramos de algo que nos causou dor sem sentir dor, chegamos ao perdão.
Como é gostoso esta parte: lembrar de algo dizendo: quase morri por causa
disso... E em seguida, soltar uma gargalhada que confirma a resolução interna.
Quase morri significa que sobrevivi. Minha estrutura psíquica me salvou. Mas até chegar a esta parte – da gargalhada –
temos um processo interno a ser elaborado que consome muita energia, atinge a
produtividade, porque a elaboração interna interfere no raciocínio lógico e
contamina o pensar. Dias nublados na alma, sorriso amarelo e olhar apagado,
distante, úmido. Lágrimas invisíveis ou não, tristeza escancarada e a esperança
de que dias melhores virão, para não se entregar na amargura. E alguém morre
por causa disso? Podemos dizer que sim, uma vez que, morrer “por dentro”,
lentamente, ruminando cada lembrança e revivendo cada momento de dor, pode desencadear
doenças físicas que levarão ao longo dos anos, à morte. As dores da alma não
costumam ser qualificadas até mesmo por quem as sente.
Mágoas e
ressentimentos servem para prolongar o processo da dor, pois impedem de assumir
a responsabilidade pelos movimentos que fizemos nos relacionamentos para que
tudo acontecesse como aconteceu. Não somos vítimas! Fazemos nossas escolhas. Escolhemos
as pessoas com quem nos relacionamos, os grupos aos quais pertencemos e muitas
vezes temos dificuldade em aceitar posturas diferentes, que não correspondem
com nossas expectativas e até mesmo com nossos valores.
Impactos
emocionais nos enfraquecem ou nos fortalecem. Você decide o que escolher. Torço
para que sua escolha seja: Xô sofrimento! #partiu ser feliz! E tudo nascerá mais belo/O verde faz do
azul com o amarelo/O elo com todas as cores/pra enfeitar amores gris – Djavan.
Kátia Ricardi de Abreu
Psicóloga - CRP 06/15951
www.katiaricardi.com.br
Publicado em 11/03/2018 na Revista Bem-Estar, Diário da Região
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