FILHOS FELIZES
publicado na Revista Bem-Estar, Diário da Região em 07/06/15
Certa vez
ouvi um pai se despedir de um filho dizendo: - Não faça nada de errado. O filho
sorrindo perguntou ao pai: - Como vou saber o que você considera errado? O pai,
após alguns segundos de silêncio, respondeu: - Considere errado tudo o que você
fizer e não tiver coragem para me contar por achar que eu não vou gostar de
saber. O filho sorriu novamente e entrou
com a mochila no ônibus. O pai, estático, ficou aguardando o veículo sair e por
mais alguns segundos, ali permaneceu, pensativo. Ao encontrar meu olhar, sorriu
e exclamou: -Filhos!
A
expectativa começa antes de chegarem ao mundo. A escolha do nome é um dos
primeiros sinais reveladores. Júnior deixa implícito seguir o modelo do pai.
Neto, seguir o modelo do avô. Neymar sugere ser bem sucedido no futebol ou em
algum esporte qualquer. E assim por diante. A escolha e a história do nome
interferem mais do que se imagina, na trajetória de vida de quem o recebe.
Como, aonde,
por que, por quem e em qual contexto chegou-se a este nome que você tem? Eric
Berne, psiquiatra canadense, em seu livro “O que você diz depois de dizer olá?”
nos mostra como o destino dos filhos pode ser influenciado pelas expectativas
declaradas ou ocultas dos pais. Além do nome, há as mensagens verbais e não
verbais transmitidas ao longo da vida, que procuram direcionar a trajetória dos
rebentos e suas decisões. Mas nem sempre eles as acatam. Muitas vezes,
conseguem transformá-las em algo totalmente contrário. Cada um é senhor de seu
próprio destino.
Percebo a
frustração de muitos pais com as escolhas feitas pelos seus filhos. Estes pais
sonharam com outro tipo de vida para eles e não ajustaram a expectativa à
realidade. Profissão, estilo de vestimenta, corte de cabelo, orientação sexual,
as escolhas mais simples às mais complexas, podem gerar pontos de conflito
entre pais e filhos por não haver compreensão de algo muito básico: filhos não
são investimentos. Já dizia Khalil Gibran: “não procureis fazê-los como vós”.
Se os pais
se empenharem em ter filhos felizes e saudáveis, darão sua contribuição à
humanidade com grandes chances de sucesso. E neste caso, o sucesso será para
ambos.
Para isso,
a ciência nos dá algumas dicas, através das pesquisas realizadas ao longo dos
anos e que não revelam nada de surpreendente. São comportamentos, atitudes e
postura que os pais podem cultivar no convívio com os filhos. A maior
dificuldade é realmente colocar em prática:
Dedique seu
tempo brincando diariamente com os filhos. Ao chegar a casa, antes de tudo,
brinque, sente-se no chão, entre no mundo da criança. Há muita dificuldade dos
pais em fazer isso, principalmente das mães, que têm dupla jornada de trabalho.
Quinze minutos que seja, pode fazer a diferença.
Evite
atitudes negativas diante dos filhos, proporcione um clima agradável no lar,
incentive-os a dizer o que pensam e sentem, permita a argumentação,
incentive-os a ter novas experiências de vida.
Não force a
perfeição. Vejo pais muito preocupados com o que os outros vão pensar e por
conta disso, fazem pressão para que os filhos se ajustem a padrões sociais,
levando-os para longe de suas reais necessidades emocionais e consequentemente
de uma felicidade autêntica. A ausência de pressão e a presença do incentivo
são o caminho para desabrochar a personalidade saudável.
Conheça seu
filho, saiba respeitar seu perfil emocional. Pais às vezes querem que os filhos
sejam de determinada maneira e quando não o são, tratam-no como se tivesse um
defeito de fabricação. Muitas vezes recebo pais que me solicitam ajuda para
mudar o filho e quando converso com o filho ele me solicita ajuda para ser
respeitado na sua forma de ser. Há uma enorme distância entre o que o filho
quer para a vida dele e o que os pais querem que ele queira.
Mais
importante do que trabalhar muito para dar-lhes um futuro melhor, é dar-lhes um
presente, com qualidade no relacionamento. Desenvolvendo a autonomia, eles
serão autores de suas próprias conquistas. Todos os convites mundanos para
caminhos insanos e perniciosos têm mais chances de serem recusados quando lhes
oferecemos uma relação estruturada no amor.
Filhos
felizes se constroem na estrutura da família, na comunicação e respeito, mesmo
quando os pais são divorciados. Família não significa pessoas morando na mesma
casa.
Filhos
felizes são frutos de pais felizes. Então, cuide de seus filhos, mas não se
esqueça de cuidar também de você.
KÁTIA RICARDI DE ABREU
PSICÓLOGA (CRP 06/15951-5) clínica
especialista em análise transacional e consultora de empresas.
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